Foto ilustrativa

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Trecho de romance:"O Presídio"

Hoje postarei aqui um pequenino trecho da minha obra "O Presídio":

"...Quando cheguei a cela que procurava, encontrei a cidadã reprodutora 967133 com seu filho no colo.Eu tinha trazido comigo o protocolo de entrada do filho dela, que certificava que ele se chamaria 133144.A Razão era simples: ele era filho dos cidadãos 1707144 e 967133 e  o Regulamento determinava que , na hora de se estabelescer um novo numero para um novo cidadão, deveria-se usar os três últimos números do cidadão reprodutor masculino, e acrescentar então os três últimos números do cidadão reprodutor feminino.
-Este então e´ o 133144?
-Sim, senhor Guarda.
-Ele recebeu um tapa olhos defeituoso?
-Sim, senhor Guarda.Há um defeito nele, que faz com que um cantinho de cada olho não esteja coberto.
-Entendi.Vou encaminhar o processo para a solução do problema.Levarei o protocolo para que seja arquivado, carimbado, então ele seguira para o setor de copia, onde sera homologado, e sera despachado um auto de investigação, que sera  confrontado em análise com todos os documentos devidamente  carimbados, homologados e reconhecidos legalmente, então saira uma ordem de investigação que sera analizada, e se aprovada,sera carimbada, homologada e reconhecida,então ela Dara entrada a uma ordem de escolha dos cidadãos investigadores, e depois de todo o processo de arquivamento, carimbaçao, homologação e reconhecimento,sera despachada uma ordem oficial de autorização dos cidadãos investigadores escolhidos, que depois de transitado todo o processo, ira iniciar a investigação.Uma vez terminada a investigação, o relatório sera examinado por cinqüenta repartições competentes e hierárquicas, ate´chegar ao gabinete do Cidadão Diretor Zero.Então ele despachara uma solução para o seu caso, que percorrera todo o caminho de volta, por cerca de sessenta instancias e então receberas a ordem e as instruções pormenorizadas de como proceder.
O bebe estava no peito da reprodutora, mas ainda assim,enquanto eu falava, ele conseguiu me ver. Estranhei muito.O olhar dele era  de uma curiosidade intrigante.Resolvi então que eu deveria acompanhar pessoalmente o caso deste menino, que parecia ter alguma coisa diferente dos outros.
-O senhor sabe o que foi feito dos outros novos cidadãos a que dei origem?
-Não. Para saber a resposta, precisa se dirigir ao Setor de Processos, e instaurar um processo de investigação civil , dirigido ao Setor de Reprodução por Inseminação Artificial.E´meu dever lembrar que a reprodução ilegal por meios que não de Inseminação artificial e´expressamente proibido.
Fiz o relatório e sai da cela.Estava muito ocupado com os processos burocráticos, tanto o de 133144, como o de como ele viera a receber um tapa olho defeituoso.
Eu sabia que ambos os processos iriam levar anos, mas como todos ali, estava conformado e satisfeito com isto.
Mas o olhar de 133144 me perturbava. Era a primeira vez que alguém me via de lado,e que me dirigia um olhar de curiosidade, aquilo me intrigava, era ininteligível.Eu já tinha registrado dezenas de ocorrências de novos cidadãos, mas aquele definitivamente era diferente.
Mas eu tinha outros casos a tratar e não podia ficar pensando muito nestas coisas.
O tempo no entanto foi passando,e com o decorrer deste fui notando algo perturbador:
Enquanto para mim e todos os outros cidadãos os dias se passavam iguais uns aos outros,para 133144 o tempo era percebido de maneira diferente: ele parecia viver cada dia de uma maneira particular, que nunca se repetia, e sua rebeldia era férrea e implacável...."

Cristiano Camargo

Esta obra está registrada na Bibilioteca Nacional e está com os direitos autorais assegurados e garantidos  a Cristiano Camargo.