Foto ilustrativa

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Espelho da Verdade- Episódio 19

Episódio 19 

Minoko caiu no chão, desarmada, e sua espada estava fincada na areia da beira da lagoa.
Rei apontava a espada para ela, quase roçando-a em seu nariz.
-Eu não acredito!Eu não acredito que esta criança conseguiu me desarmar desta maneira com um só golpe!
Mutsumi bocejou:
-Mas já?Já perdeu tão rápido assim?Ih, mas como você é fraca, heim?Um golpezinho elementar destes...uaaaaaah, que sono!
-Eu não perdi ainda! Agora eu fiquei com raiva !
-Mestra, posso brincar um pouco mais com ela?
-Pode, Rei, deixa ela ganhar um pouco, para variar...
-O quê?Me deixar ganhar?Esta pirralhinha, que mal saiu das fraldas?Ah,eu não vou ser humilhada deste jeito não!Não mesmo!Agora você vai ver, sua pivetinha mal-educada  e arrogante!
-Uooooh! Bocejou a menina.
Sem aviso,Minoko deu uma rasteira na garotinha, enquanto saltava ágilmente para tentar pegar a espada dela de volta.Mas Rei também saltou,e não só não caiu, como pegou a outra espada primeiro e cruzou as duas perigosamente em volta do pescoço de Minoko.Se quisesse, podia fácilmente ter-lhe cortado a cabeça em fração de segundos.Minoko estava irremediávelmente imobilizada.Qualquer movimento que fizesse, sua carótida ou sua jugular seriam cortadas, provocando-lhe a morte certa.
-Renda-se de uma vez.Você não é pareo nem para uma aprendiz iniciante como ela,imagine então para aquele cavalo do Seisaro.
-Eu não vou me render! Eu não vou ser humilhada por uma criança!
-Minoko, você já foi humilhada.Duas vezes.Reconheça sua derrota.Eu também conheço esgrima. Não há como escapar daí.Rei foi brilhante !Disse Shinobu.
Minoko sentia vontade de chorar, ao ver o sorriso arrogante de Rei, que gargalhava dela com gosto.
-Você não é de nada, escrava !Ahahahahah!ahahahahahahah!E a menininha limpou um dos pés na barriga de Minoko, depois na cara dela, sujando-a de barro e areia.
Minoko cerrava os dentes, furiosa, tão furiosa que raios saíram de suas mãos e deram um choque na menina,que se arrepiou toda, como num choque elétrico, teve os cabelos chamuscados e foi jogada para trás,tonta, cambaleando.
Delicadamente Minoko tirou as espadas de perto do seu pescoço, e rosnando e bufando como um cachorro colérico, falou para a menina:
-Sua cadela!Vadia! Como ousa me chamar de escrava?Como ousa pisar em mim, no meu rosto, como ousa me humilhar deste jeito?Eu vou te ensinar uma lição!Os raios saíram das mãos dela de novo e se intensificaram e atingiram a menina em cheio, que gritava de dor.
-Pare !Pare agora mesmo !Disse Mutsumi, agora brava, agarrando Minoko por trás, e levantando-a do chão, girando nos calcanhares ,para que ela ficasse de costas para a crinaça.Se Minoko tivesse continuado mais um pouco, a garotinha teria certamente morrido queimada viva.O corpo dela estava cheia de queimaduras, algumas de segundo grau.Rei estava caída no chão, desmaiada, e Shinobu a amparou em seu colo.
Mutsumi continuou segurando Minoko até que os raios cessassem.Quando ela se acalmou, a espadachim acertou-lhe um tremendo tapa na cara.
-Como você ousa fazer uma coisa destas com uma criança?Você quase a matou, sua incosequente!Irresponsável! Eu teria te matado na hora de ela tivesse morrido!Você não vai  treinar mais nem com ela , nem com ninguém.Se você não sabe admitir sua derrota, não merece ser treinada.Não vou ensinar a uma covarde, que usa magia, bruxaria contra uma criança!Você não tem vergonha, sua vaca, prostituta, vadia, vagabunda?E ainda vem xingar uma menininha de vadia, sua indecente?Quem é você para ofender a ela e a mim desta maneira?
Minoko, ajoelhada em frente a ela, só chorava.Cometera um erro terrível, e pusera tudo a perder, por ter perdido a cabeça!Mutsumi tinha toda a razão, e ela estava muito, muito envergonhada.Com olhos marejados,pegou uma espada e a apontou para a própria barriga.Ia cometer o suicídio ritual japonês, o harakiri.
Porém, Rei acordou,e ainda fraca, no colo de Shinobu,disse em tom fraco,com lágrimas nos olhos:
-Não...não deixem que ela se...ela se mate...eu vou treiná-la...por favor...Mu...Mutsumi-sensei, perdoe ela,deixe-a vi....viver...por favor...
.Também comovida,sua mestra arrancou a espada das mãos  deMinoko e a jogou longe, agarrou-a pelo colarinho do kimono, levantou-a no ar, e jogou-a no chão com violência.
-Você teve sorte.Se não fosse pela nobreza e magnânimidade de Rei, você já estaria morta.Se você não tivesse se matado, eu teria cortado fora sua cabeça.Nunca mais, nunca mais use esta maldita mágica,ou bruxaria, sei lá, contra a minha aprendiz,ou vai se ter comigo, entendeu?Agora você deve sua vida a ela, então não lhe resta mesmo qualquer honra ou outro caminho do que o da humilhação:a partir de agora você será a escrava de Rei, que te usará como quiser, e obedecerá todas as ordens dela e minhas, cegamente,por mais humilhantes que sejam,e ela te treinará se ela quiser.Agora levante-se, ajoelhe-se diante dela, agradeça a ela e beije-lhe os pés e a reconheça como sua dona e Mestra.Ela será chamada por você daqui por diante como Mestra, ou Rei-sensei,caso ela queira mesmo te treinar.Só porque ela me pediu, eu a perdoo e a poupo, mas esta será sua punição!
Minoko, desolada,humilhada e deprimida,obedeceu.Ajoelhou-se até encostar os braços e mãos  e a própria cara no chão, e beijou os pés da criança, jurando fidelidade e lealdade a ela, reconhecendo-a como sua dona e Mestra,jurando protegê-la também.
-Mutsumi-sempai, as meninas me falaram que ela tem o dom da cura, deixe-a usar a magia dela para curar a Rei.
-Tudo bem, Shinobu.Pode curar sua Mestra,mas ai de você se você a machucar mais, heim?
Minoko tomou a menininha nos braços,tocou em uma das feridas, e a aura envolveu a criança, que começou a flutuar no ar.Um beijo em sua testa começou a transferência de parte de sua energia de vida para a garotinha, que começou a ter sua queimaduras curadas uma a uma, a febre intensa que ela estava passou, e,como depois de pedir que sua mestra perdoasse a Minoko,ela tinha desmaiado de novo, acordou e recobrou a consciência, e em poucos minutos estava bem de novo,forte e saudável.Mutsumi abraçou sua protegida com carinho, assim que ela pousou no chão de novo.Todas estavam aliviadas.
Rei levantou-se e disse:
-De pé, escrava.Dê-me um banho na lagoa, agora! E não deixe cair agua nas minhas orelhas !
-Sim, Mestra...
Disse Minoko.Nem parecia aquela aventureira intrépida e orgulhosa de antigamente.
-E quanto as amigas dela?
-Traga-as amanhã. Explique o que aconteceu a elas, e as ensine o caminho para cá.Minoko vai ficar conosco dia e noite, mas as demais podem ficar vindo pela manhã e voltando para a casa ao escurecer.
Shinobu voltou sozinha para casa.Ao chegar, contou tudo às meninas, que ficaram chocadas.Então, um guarda do Palácio do Suserano chegou e pregou na parede da porta da loja de armas o cartaz de "procuradas".Por sorte, as meninas estavam todas para dentro, mas Shinobu viu e foi ter com as meninas:
-Vocês viram isto?Vocês estão sendo procuradas, e estão até oferecendo um a recompensa enorme pela cabeça de vocês!
-Ah, não ! Shinobu-sempai, você vai...denunciar a gente?
-Não, Fushiko, não vou.Fiquem tranquilas. Eu gosto de vocês, e preciso de vocês trabalhando aqui comigo.Mas agora, tem este raio deste treinamento...eu não posso liberar todas de uma vez...bom, vamos fazer o seguinte:combinem um rodízio entre vocês, e a cada dia irá uma lá para o treinamento,ficar pela manhã,na hora do almoço volta, aí outra vai a tarde, e assim vai indo.Vejam entre vocês quem vai amanhã.Eu irei ficar levando cada uma de vocês até lá todos os dias até que aprendam o caminho.
-Mas, e se alguém vier aqui e nos reconhecer?E se a expedição punitiva chegar e nos encontrar?
-Ah, tranquilo,Namya.Olhem lá na estrebaria:tem um fundo falso com um túnel que sai nos fundos da cidade.Vocês podem se esconder, ou mesmo fugir para lá.Se precisarem fugir, procurem pela Mutsume.Ela irá defendê-las, ela é uma muher muito direita.
-Fico mais tranquila agora,Shinobu-sempai.
-Ótimo, Kareni, então...olha esta fole! Você está deixando o forno esfriar! Namya, já deu a segunda forja nas pontas de flexa?Não?Está esperando o quê?E você,Fushiko, porque parou de martelar esta ponta de lança?Depois ainda tem que cuidar daquele monte de espadas que estão no forno!Olha lá, não vão deixar passar do ponto! Trabalhando, gente, trabalhando !
Depois que Shinobu saiu da forja e foi para o balcão da loja,Fushiko murmurou, irritada:
-Megera! Só sabe mandar! Por que não põe a gente para vender?
-Ah, linda,só quer trabalho fácil, não é preguiçosa?Replicou Kogyo.
-Ah, é, é?Para você é fácil, você estava no balcão vendendo até agora...
-Oras, o que posso fazer se sou boa vendedora? Se quer saber, a Shinobu tem sido muito boa comigo.Agora me dê licença, que ela me pediu para tomar conta da Arumi!
-Kogyo, sua folgada! Vai para a cama com ela, então!Só pega servicinho fácil,protegidinha da mamãe!
-Bleeee!Kogyo mostrou a língua para ela e disse:
-Já fui, sua boba!E quer saber?Adorei!
-Já esqueceu a Minoko,Kogyo?Você não se dizia apaixonada por ela?
-Eu amo ela, ou melhor, o Narumeshi.Mas como ela não está mais aqui para aplacar meu fogo, vai a Shinobu mesmo !Só que vê se fica quieta e não conta nada para ela, heim,Fushiko?
-Que você é infiel?Pode deixar, não conto, mas você me deve uma, e vou cobrar de você hoje a noite.
-Ei, Fushiko,está me traindo?Você não disse que era a minha namorada? Disse Namya, envergonhada.
-Não, Namya, pode participar também, hoje nós três vamos nos deitar uma com a outra e fazer amor a noite inteira, certo?
-Fushiko!Namya ficou ainda mais envergonhada.Na verdade ela estava morta de medo que Shinobu as pegasse em flagrante de novo.

Enquanto isto, Minoko sofria tristemente.O treinamento imposto por sua dona e mestra era rigoroso como ela nunca supôs que uma criança de dez anos fosse capaz.Mas Rei era compenetrada e aplicada,e também altamente disciplinada, e a cada vez que Minoko errava uma postura, saía da concentração ou falhava num golpe, apanhava de chicote.Rei tinha um quê de perversidade: exigia que Minoko ficasse o tempo todo nua, mesmo quando estava frio, e nos poucos intervalos, exigia brincar  de cavalinho. montada nas costas de Minoko,que tinha de ficar de quatro, com uma coleira e uma corda no pescoço, e Rei acertava as costelas dela sem dó com os pés e chicoteava as costas e as pernas dela o tempo todo, exigindo que andasse mais depressa.Se deixasse a menina cair, o castigo era pior.
Rei as vezes usava de um remo de madeira para crianças, com o qual espancava sua escrava  nas pernas , braços e costas , as vezes até por meia hora inteira.
Mas, apesar de toda a humilhação, Minoko aprendia, e aprendia.
No dia seguinte, Fushiko veio aprender, mas o treino dela era bem mais condescendente.
Enquanto isto, naquela manhâ , Arumi chegou correndo no balcão da loja e disse a Kogyo :
-Samurais ! Um monte deles ! Eu vi, eu vi, eles estão chegando !
Alarme dado, as meninas trataram de fugir para o esconderijo de Mutsumi o quanto antes.

Agora a Expedição chegara, e o confronto se aproximava.Mas o treinamento de nossa trupe mal começara! E agora?Como conseguirão escapar?

(Por continuar)