Foto ilustrativa

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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Minissérie: Antes daquela fria manhã de Outono-Episódio 14




Episódio 14



 As lembranças de Nami nunca foram tão pesadas e difíceis de suportar como agora.Elas doíam em seu coração, e a consciência de que ela nunca mais voltaria a sufocava mais ainda,e a vida perdera todo o sentido para ela.As demais internas pareciam para ela apenas figuras cinzentas e sem rosto,que para ela nada significavam.As vozes delas pareciam distantes.
Ela nem notou que Mei chegara no quarto e tentava falar com ela.
As demais internas ficaram apavoradas ao ver que Maki a ignorava completamente,continuando em seu pranto profundo.
Mei ficou extremamente irritada e mandou suas subordinadas darem uma surra nela.
Mas Maki nem sentia os tapas, socos, pontapés,embora seu corpo sentisse.
Depois de um forte soco na boca do estômago, Maki vomitou sangue, e seus olhos se arregalaram por reflexo, mas não havia uma só palavra ou gemido de dor saindo de sua boca de lábios inchados, e ela ignorava o sangramento de seu próprio nariz, e os dois olhos roxos.
Maki tinha se entregado para a morte.Queria morrer também, para se encontrar com Nami, onde ela estivesse.
Por duas horas se transformou em saco de pancadas, sem uma única manifestação de dor, o que levou suas torturadoras quase ao desespêro,num crescendo de raiva, em que redobraram a violência dos golpes, e nada.
As internas, com receio de também sofrerem tais abusos e violência, viam horrorizadas aquela massa amorfa sub-humana toda ensanguentada apanhando como uma condenada,sem esboçar reação.Por fim, arfando e bufando muito as quatro, exaustas de tanto bater, desistiram e a largaram no chão como se ela fosse um saco de batatas.
Diante da barulheira, a Assistente passou por lá, e chamou a Enfermeira, e ela e duas subalternas carregaram Maki totalmente estropiada numa maca.
Foi necessária muita insistência para convencer a Gerente de que era necessário levar Maki urgente para um hospital, pois tinha várias costelas quebradas, nariz quebrado, e um braço quebrado.Uma das costelas ao se partir, perfurou seu pulmão direito, e este se encheu de sangue.Haviam também várias hemorragias internas e Maki estava inconsciente.
Uma ambulância passou no Orfanato e a levou ao hospital, onde chegou a ficar na UTI por uma semana, entre a vida e a morte,e depois levou duas semanas para se recuperar.
Finalmente, quando se recuperou, foi levada de volta ao orfanato.
Com o tempo, Maki foi respondendo a estímulos e obedecendo as ordens mecânicamente, executando as tarefas mais sujas e nojentas do orfanato, sem reclamar.As demais internas chegaram a achar que ela fosse muda, por que só chorava baixinho dia e noite e não falava nada.Calada o tempo todo.
Diáriamente era o saco de pancadas preferido de Mei, e alvo das piores humilhações possíveis,que até as internas mais experientes ficavam horrorizadas.Até comer absorvente higiênico da menstruação de Mei, Maki comeu, sem dizer palavra.
Mas foi, felizmente, logo descartada como parceira de lesbianismo, pois Maki só ficava parada, choramingando irritantemente, e não fazia nada e não sentia nada por mais que fizessem mão boba nela.Se a tentavam beijar, ela simplesmente ficava de boca trancada e não participava.
Um dia, chegou uma nova interna.Seu nome era Ume.
Logo que chegou, percebeu que Maki era diferente das outras internas, e sem saber o que lá se passava, por ser novata,tomou as dores dela quando a viu apanhar feio mais uma vez.
Com Ume também tudo era diferente por que ela impôs respeito desde o começo:tinha quinze anos de idade, mas era excepcionalmente alta para a sua idade, e como era filha de um halterofilista profissional, ela também praticava o haltteres, e era muito, muito forte e musculosa, e físicamente pouco feminina.Mas seu coração contrastava com seu corpo:era gentil e sensível e gostava de ajudar as pessoas, e como tinha sido, em sua infância muito alvo de bullying de garotos malvados, não suportava ver outras pessoas virarem sacos de pancadas.Foi a primeira vez na História  do Orfanato que todo o Esquadrão Disciplinar levou uma surra homérica,quando ela se jogou no meio das cruéis perseguidoras de Maki.
Porém, Mei jurou vingança e não perdoaria Ume nunca!
E foi assim que aconteceu a segunda amizade de Maki.
Com muito carinho e atenção, Ume foi fazendo Maki se recuperar do estado de choque e contar suas vissicitudes e seu sofrimento, o que levou Ume a se comover ao perceber que sua intuição estava certa:Maki era alguém muito, muito especial e não deveria estar ali.Ela torcia muito para que Maki fosse adotada logo por uma família igualmente especial, como Maki merecia, mas a realidade, infelizmente era outra: a maioria das famílias só queria bebês, e mesmo crianças de quatro ou cinco anos difícilmente conseguiam ser adotadas.Era extremamente raro alguém sair de lá para morar com uma família.Tratava-se mais de um mero repositório de "lixo humano", como a Gerente se referia às suas internas.
Mas Ume fez por Maki muito mais do que apenas defendê-la: através dela, conseguiu que Maki conquistasse a atenção e o favor da Assistente, que comumente intercedia junto à Gerente a favor de Maki.Também Ume ficou amiga da Assistente, o que não impediu a vingança de Mei mais tarde.

(Por continuar) 

Série Especial: Autômato- Capítulo 2

 

 

Capítulo Dois

 

 

 

Não lhe interessava o que lhe era ignorado. Mas aquela imposição pesada e sufocante (?) estava lá ,apertando-o com violência literalmente esmagadora.
Mas a casca de Auto era forte, tão robusta quanto a sua alienação. Quanto mais a mão gigantesca se contraia, maior sua abstração. Tornava-se evidente que sua casca se enrijecia mais e mais ‘a medida que se abstraia.
Auto foi chacoalhado com fúria pelo Criador, e jogado ao chão e submetido ‘a tremendo impacto ao chocar-se com a parede. Sentiu - se zonzo, e uma nova e pequena rachadura apareceu em sua testa.
O Criador  saiu nervosamente, e se pudesse, estaria resmungando.
Era a primeira vez que Auto saia de sua gaveta. Sua distração era tamanha, no entanto, que ele nem reparou nisto. E como se ainda estivesse lá, naquela altura enorme, da qual ele estava tão distante quanto próximo.
Ouviu um rastejar, em um lampejo instantâneo de atenção, daqueles que raramente ocorriam.
O que ele viu o assustou.
Uma espécie de lagarta mecânica, qual centopéia, faltando muitas pernas, cuja cabeça lembrava vagamente um rosto humano sem expressão. Outra das criaturas do Criador. Ela tinha , no entanto a habilidade de subir pelas paredes.
Refeito do susto, Auto arrastou-se o mais rápido que sua fraca motivação o permitia, e agarrou - se a Lagarta.
Esta permaneceu impassível, com a enigmática paciência de que só os insetos são capazes, e não esboçou reação. Apatia absoluta.
Auto foi arrastando-se por cima dela, e a olhou nos olhos.
Surpresa! O rosto dela parecia o seu próprio, tinha inclusive um olho só como ele !
Horrorizado, Auto caiu dela  ,seu olho revirou para dentro de si próprio, e mais horrorizado ainda começou a saltitar desengonçadamente com seus braços que não conseguiam firmar-se e mante - lo estável em pe.
A Lagarta só agora se mexeu, iniciando a subida pela parede diretamente ‘a sua frente.
Finalmente tranqüilizou - se. Olhou para o longuíssimo e largo corredor. De cada lado se podia ver doze gigantescas (para Auto) gavetas, uma acima da outra, no sentido vertical, e centenas, ‘a perder de vista, uma ao lado da outra, no sentido horizontal. Era apenas um das centenas e centenas de corredores entrecortados do lugar.
O que estaria por trás de tantas gavetas ? Que criaturas, certamente aos milhares, estavam misteriosamente escondidas ? Quem seriam elas ?
Isto Auto teria de descobrir.
Mas o mais temeroso, sem duvida , era procurar saber o que havia nas gavetas abertas, e muitas delas assim o estavam, revelando seus segredos.
Uma sensação estranha tomou conta de Auto. Aquele ambiente esmagadoramente opressivo, que insistia em mante - lo minúsculo diante de tamanha grandiosidade lembrou - lhe a mão do Criador. Sentiu, mesmo sem entender, sua própria pequenez. Sua casca endureceu -  se ainda mais. A cada perigo, a cada ameaça, insistia em endurecer-se rigidamente cada vez mais, qual noz, só que recebendo mais uma camada de armadura ‘a cada diminuição de si mesmo diante do mundo, e quanto mais o mundo o dominava, menor Auto ficava, mais robusto e mais robustamente alienado ele ficava.
Uma resposta ao mundo que o agredia? Talvez.
Porem, quanto menor ficava, maior era sua encapsulação em si mesmo, algo inconsciente, ou ate contra a vontade, como que para proteger seu âmago e libertar suas características típicas, seu modo vago de recusar-se ‘a ver o mundo. Auto era acima de tudo, paradoxal.
Sim, pois ele não gostava de ver ‘a si mesmo por dentro, mas era para dentro de si mesmo que refugiava-se para fugir de um mundo ameaçador e estático, cuja dureza e solidez o amedrontava ainda mais. Auto vivia entre dois mundos medonhos, vida de eterno pesadelo.
Dentro de si procurava proteção, dentro do mundo não ousava procurar nada.
Frio. O frio granito inexpressivo refletia para Auto a indiferença cruel do relacionamento inexistente entre ele e o mundo. A beleza do puro mármore brilhante refletindo qual espelho, quando um parco raio de Sol banhava o chão e as paredes, mas Auto não enxergava ‘a si mesmo. E com seu único olho, só podia ver metade do mundo. Mas as duas metades para ele significavam, indistintamente, o simples Desconhecido. Ate que se podia dizer, de certo ponto de vista, que Auto na verdade era cego!
Triste e o fato de que os dois mundos por onde Auto transitava não eram belos, não ofereciam qualquer proteção, nenhum alivio de suas dores, qualquer refugio verdadeiro, ou qualquer coisa positiva que o fosse.
Nenhum dos dois lhe dava prazer, apenas dor era o que tinham a oferecer-lhe.
Auto prosseguiu arrastando seu corpinho minguado, sempre em frente, em sua típica lentidão. Ignorava quanto tempo tinha passado arrastando-se, quando finalmente chegou ‘a um cruzamento com outro corredor. Certamente jamais tinha ido tão longe em sua vida. Desabou no chão com violência.
Começou ‘a dormir. Dormir?
Maquinas não dormem. Mas Auto era diferente. Seu maquinario interno ‘as vezes, como agora, diminuía seu ritmo de atividade, mas o diferencial e que ele, não obstante não ter cérebro, e sim, um compacto e robusto jogo de maquinas de diversos tipos interagindo entre si, tinha ainda uma modesta e precária Mente. E um pavor intenso de parar. Parar, realmente queria dizer morrer.
Aquele mundo estático para ele era um mundo morto.
Sua insegurança era ver seus “ órgãos “ , um deles que seja, parar. Sua mente confusa não parava, mas diante de tanto esforço, se acalmava.

(Por continuar)