Episódio 33
A rua estava em festa!
Ou melhor, a cidade inteira, pois em pouco tempo os boatos chegaram ao Xogum de Kyoto e o poderoso governante logo se interessou.
Em questão de minutos foi organizada uma festa de rua, e as garotas eram as convidadas de honra.Até Kinji e o Sacerdote fizeram questão de irem a festa!
Havia comida e bebida a vontade, e Rei e Juuchi se fartavam de comer seus doces.
Os olhos da menina se arregalaram quando os moradores locais trouxeram para afrente dela uma enorme bacia lotada de doces de feijão !
-Eeeebaaaa!Juuchi-san, vem comer comigo!
-Já vou, Rei-kun!
-Kun?Quem disse que você é me namorado?
-Eu não te salvei?
-Salvou,mas, e daí?Eu já te agradeci, não agradeci?Agora você quer que eu seja sua namorada só porque você me salvou?Ou você tem outras intenções comigo?Você quer se deitar comigo, é isto que você quer, Juuchi-san?
Juuchi ficou roxo de vergonha e engasgou os doces que comia,Minoko e o resto das garotas idem.Aliás Minoko ficou furiosa:
-Reeeei! Isto é coisa que criança diga, menina?Onde está sua educação?
-Ah, mas eu acho que é isto que este menino quer mesmo,mãe!Afinal, ele já me viu pelada !
Minoko engasgou de novo, a ponto de Mutsumi ter de dar fortes tapas em suas costas.
-Se você aprontar com ele,Rei-san, você não é mais minha filha, entendeu?Ah, se eu souber, você nem imagina o tamanho da surra que te espera!
-Imaginem se ela aparece grávida então, a Minoko cai dura no chão!
-Os Deuses me livrem ! Nem pensar!Eu mato esta menina ! E o moleque também !
Disse Minoko, horrorizada.
-Não vai acontecer nada disso, porque a Rei-san é uma dama, e o Juuchi é um pequeno cavalheiro, não é?Eles saberão esperar até os vinte e um anos de idade, isto são só brincadeirinhas, a Rei está só provocando a ele para deixá-lo envergonhado e rir da cara dele.
-Espero que você tenha razão,Namya!
-Calma, Minoko, ela tem razão.Eu convivi muito com a Rei-san, e sei que ela não vai fazer nada com ninguém até ser adulta.Ela pode não parecer, mas tem muito juízo para a idade dela.E neste tocante de namorar, podem acreditar, ela é tímida !
-Ha! Duvido !
-Eu também,Minoko!
-Ah, você não vale, Fushiko, você é do contra!
-Do contra, é,Namya?Espere só ela começar daqui há pouco a soltar gases, você vai ver, vai matar todos nós intoxicados !
Todos na mesa riram á vontade.
Mas as crianças, no entanto, sem ligar para o que os adultos diziam,continuavam conversando:
-É claro que não, sua boba, imagine se eu iria querer alguma coisa destas com você!
-Está me chamando de feia, Juuchi-san?Quem é que ficou me olhando pelada e dizendo que eu era linda, e olha que eu estava toda machucada, ainda bem que a mamãe usou o poder de cura dela em mim!
-Não, Rei-kun, não é isto! Você é linda, mas é que...que...eu...eu sou muito tímido!
-Ahahahahahahah! Fica tranquilo que eu não quero ver você pelado não, seu bobo.Era brincadeira,eu queria ver se você gostava de mim, mas eu não sou fácil assim não, viu,Juuchi-san?E pára de me chamar de -kun, por que eu não sou sua namorada,certo!
-E quem disse que eu quero?
-Ah, você não quer me namorar?Uma menina lindinha como eu, com este corpinho charmoso,vai dizer que você não está doidinho por um beijo meu?
-Convencida !Rei-san, você é muito convencida! Eu não quero beijo não, isto é nojento!
Agora Rei se enfureceu, e deu um tapa tão forte na cara do menino que ele caiu no chão, e depois ela saiu correndo e foi chorar num canto escuro, sentadinha abraçando as próprias pernas. O menino tmabém desandou a chorar.
-Eeeeh, que que foi,Juuchi-san?Disse Namya, amável, com um sorriso simpático,estendendo a mão para ele se levantar.
-A Rei-kun me bateu ! Ela não gosta de mim!
O menino contou, soluçantemente a conversa que teve com a menina.
-Ah, eu entendi.Bom, olha, eu se fosse você ,parava de chorar, e ia lá pedir ela em namoro de uma vez.Ela está se sentindo rejeitada por você, porque você disse que não quer um beijo dela e que beijar é nojento, então ela acha que você tem nojo dela, entendeu?Via lá, seja carinhoso com ela, e a console, depois a peça em namoro, ela vai voltar para você, você vai ver! Vai lá,vai dar tudo certo, está bom?
-Namya-kun, você é uma mãe para mim, sabia?Eu adoro você!
-Qualquer mulher teria a maior alegria e orgulho em ter um garoto gentil e valente como você como filho,Juuchi-san, inclusive eu!
-Então a partir de agora voc~e é a minha mãe! Pronto ,eu já escolhi !
-Ah êeee, Namya, virou mãe do moleque, heim?Gente, agora a Namya vai ser a mãe do valente Juuchi, o pequeno herói que matou o Homem-Monstro!
Todos na mesa aplaudiram a Namya, depois do pronuciamento em alto e bom tom de Fushiko, já visívelmente bêbada, que adorava espalhar fofocas!
-Aaai, não, esta não!Eu mato esta Fushiko!Tudo bem, filhinho, você será minha criança agora ! Vai lá, então, que sua namorada está te esperando!
Disse Namya.
-Eeeebaaaa! Obrigado, mamãe! E, entusiasmado,Juuchi abraçou sua nova mãe adotiva e lhe deu um beijo carinhoso no rosto. E saiu correndo para ir ver a Rei.
Namya ficou vendo Juuchi se afastar, acenando para ele.Uma lágrima pingou do seu olho, e outra, e mais outra...ela sempre quis ser mãe, e estava invejando a Minoko por ter adotado a Rei.Aquele beijinho no rosto, e a palavra "mamãe" calaram fundo em sua alma, e ela rápidamente estava se apegando ao garoto, e aprendendo-a amá-lo e compreendê-lo.Nunca se sentira tão feliz em sua vida! Criar Juuchi e torná-lo um homem amável ,bem sucedido na vida e feliz, este era o sentido de sua vida à partir de agora !E lá no fundo do seu coração, ela pressentia que Rei era a menina ideal para ele, embora ela ficasse enciumada de ter de dividir o amor por ele com ela,mas estava claro na cabeça dela que um tinha sido feito para o outro,e que depois de adultos aquele namorico de criança iria se tornar um amor verdadeiro e completo, pela eternidade!
Juuchi chegou e ficou de frente para Rei.
-Desculpe, Rei-san! Eu gosto de você, eu nunca teria nojo de você, nunca...eu gosto de você e quero ficar junto de você para sempre!
-Não me chama de Rei-san! Nem de Rei-kun! Não me chama! Pronto!Me deixa em paz!
Rei continuava chorando enquanto respondia.
Então ela ouviu o choro baixinho e soluçante de Juuchi, levantou a cabeça e viu as lágrimas dele.De repente seu coração fora assaltado por um sentimento de vazio na alma,um aperto, e,quase que instintivamente,se levantou e abraçou o menino, dizendo:
-Que foi,que foi?
Ambos choraram um no ombro do outro e acariciavam os cabelos um do outro até se acalmarem, então:
-Desculpe, Juuchi-san...eu sou uma boba mesmo...
-Rei...eu...eu te amo !Por favor, por favor, seja minha namorada !
-Você nunca vai me deixar?Vai ficar comigo para sempre?Jura?
-Eu juro,juro por todos os Deuses!
-Então vamos fazer a promessa do dedo mindinho.Diga comigo:eu juro que vou ficar com você para sempre e nunca vou te deixar !
Os dois entrelaçaram o dedo mindinho de suas mãos.
-Eu juro que vou ficar com você para sempre e nunca vou te deixar !
Disseram os dois ao mesmo tempo.
-Então, Juuchi´kun, seu bobo, eu aceito.Você é meu namorado, agora!
E, para a surprêsa de Juuchi, Rei lhe deu um rápido selinho na boca, e o abraçou com carinho, para depois lhe sussurrar no ouvido:-Eu também te amo,meu heróizinho!
Juuchi não podia estar mais feliz e comovido! Nem Rei!
Voltaram para a mesa de mãos dadas, ainda com os olhos úmidos, o que tocou o coração de todos.Os dois gritaram juntos, levantando os braços, de mãos dadas, para todo mundo escutar:
-Estamos namorando !
Irromperam os aplausos pela festa inteira!
Minoko e Namya foram as primeiras a vir correndo abraçar aos dois felizes novos pombinhos,eternecidas.Uma sorria para a outra, orgulhosas de suas crias adotivas!
-Agora temos mais um motivo para comemorar ! Eeeeeeeeeh! Gritou Fushiko, caindo para trás da cadeira, de tão bêbada.
E a festa prosseguiu, animada!
Mas uma hora ela tinha de acabar, e já era tarde da madrugada quando voltaram para o Templo.
Como quase todas as adultas acordaram tarde, com uma ressaca daquelas, resolveram ficar mais um dia na cidade e partir no dia seguinte.
Já era ao entardecer, quando as garotas se reuniram com Toppei,que acabara adiando um pouco sua viagem, e Kinji, que também iria partir só no dia seguinte, na comprida varanda da ala residencial do Templo.
Ao chegarem lá, Toppei e Kinji estavam numa animada conversa:
-Então, as coisa vão ficar mais difíceis, Toppei-sempai!O velho regime do Xogunato está para acabar, o Imperador está cada vez mais forte, o Japâo está se modernizando,e se ocidentalizando a passos largos, e cidade após cidade, os Xoguns estão caindo do poder e seus samurais não tem como resistir às armas de fogo que os americanos tem vendido ao Imperador...
-É, meu amigo, a tendência é esta mesma, e inexorável.Eu soube que os americanos estariam pressionando o Imperador para proibir os duelos com espadas,é verdade?
O que serão dos rounins, então?Acho que muita gente poderosa vai cair em desgraça e perder tudo..
-Minha preocupação é o povo.O Imperador é enfático em dizer que a abertura dos Portos japoneses ao mundo vai trazer muitos benefícios aos japoneses,especialmente aos mais pobres.Agora, rounins e Xoguns já não tem mais sentido num Novo Japão Moderno e Industrializado, que o Imperador sonha, e me parece que não sejam só sonhos, estes sonhos parecem estar começando a se concretizar rápidamente!Eu estive conversando com Embaixadores britânicos e americanos, e eles me disseram que lá no Ocidente já existe um transporte muito rápido e que não usa cavalos, mas a energia do vapor, que eles chamam de trem.O Imperador se encantou e está estudando a possibilidade da implantação do trem entre Shimbashi e Yokohama.
-Entendi...é, Kinji-san, são novos tempos mesmo.Amanhã começa o ano de 1867,e um novo Sol estará nascendo, só não sei se sobreviveremos a isto!
-São tempos conturbados, Toppei-sempai.Mas eu já vi que é melhor ficar do lado do Imperador.Para mim está claro que ele vencerá, e não irá demorar.
-Muito sangue ainda correrá, Kinji-san!
-Ih, que conversa séria de vocês, não?
-Ah, Minoko-san, sente-se,Não estamos falando apenas de política, mas de História.
-Vocês disseram que rounins como nós não terão mais vez neste Novo Japão que vocês estão falando, é verdade?
-Sim,Karemi-san,é verdade.Logo não haverá mais Xoguns, nem Suseranos, nem vassalos.Duelos com espadas nas ruas serão proibidos, e não sei como os rounins vão poder se virar para sobreviver.Logo existirão grandes indústrias, que precisarão de trabalhadores,e as cidades devem crescer,será todo um mundo novo!
-Olha, eu não sei o que são trens, nem indústrias,nem nada disto, mas não gosto.Estou acostumada a vida simples de rounin, e o que sei fazer de bom é lutar com minha espada.Espero que este tipo de coisas não aconteça tão cedo!
-Não sei se posso te dar esperanças, Minoko-san...
-Bom, então,Kinji-san, vamos falar de coisas mais agradáveis! Vocês viram só o meu filho e a Rei namorando, que gracinha?Eles são tão apegados!
Enquanto Namya falava,Juuchi e Rei brigavam no quintal, com chutes, socos, mordidas, puxões de cabelos, enfim, total harmonia !
-Eu estou vendo mesmo!Eu espero que o namoro meu com a Chitose-san, não seja assim tão violento!Ahahahahahahah!
-Kinji, seu bobo!Disse Chitose, dando-lhe um beliscão no braço.
-Acho que será violento sim!Disse Toppei, em tom de brincadeira.
-Reeei! Pára com isto, menina! Sossega um pouco! Deixa o Juuchi em paz!
-Ah, mãe, mas ele me deu um beliscão no trazeiro !
-É mentira,Tia Minoko! Ela que quis me dar um beliscão no...
-Juuchi-san, por favor não seja mal educado e não fale palavrões,certas coisas crianças não devem dizer!
-Ah, mãe, por que a Rei pode falar "trazeiro" e eu não posso falar...
-Porque não pode, nem ela deveria falar estas coisas.
-Ah, estas crianças, estão ficando cada vez mais impossíveis !Rei, sua boca suja! Pára de falar bobagens menina. E ai de você se puser a mão em algum lugar dele que eu não gostar !
-Crianças, porque não vão brincar com o gato?Disse Chitose, ao veru gato passando por ali.
-Ebaaaa!Um gato! É meu!
-Não, Re-kun, é meu!
-Não, ele é meu gato!
-Não, ele é meu !
-Miaaaaaaauwwwwwrrr!
As duas crianças , uma segurando o animal pelo rabo, e outra pelas patas da frente, o puxavam cada um para um lado, num verdadeiro cabo de guerra, e o coitado, desesperado, urrava de dor, pois se continuassem assim, ele iria logo se partir em dois!
-Parem, parem com isto!O gato não é brinquedo, vocês vão matá-lo!Disse Fushiko, que não aguentava ver o sofrimento do bichano.
Só que ambas continuavam dizendo:-É meu! E o puxando com cada vez mais força.
Minoko e Namya resolveram intervir, e a muito custo fizerem seus filhos adotivos soltarem o coitado do animal,que fugiu correndo.
-Preferia ter de matar o Homem -Mostro do que enfrentar estes dois!Haja aciência!
-Crianças são assim mesmo, Minoko.Olha, porque você, Rei-san, não ensina ao Juuchi-san a arte da esgrima, heim?
-Ah, Tia Namya, eu não sei se aqui tem espadas de madeira.Espadas de metal podem machucar de verdade.
-Tem sim, vão lá no depósito pegar,crianças.Aliás, Namya-san, gostei muito de conhecer a Mutsumi-san, onde ela foi?
-Ela já voltou para a terra dela,Toppei-sempai.Foi hoje cedo.
E assim o tempo se passou, e no dia seguinte cedo, todas as garotas e as crianças se despediram do Sacerdote.Kinji, depois de uma longa e triste despedida de Chitose,foi para a capital do Império do Japão, e logo as garotas e as crianças estavam pegando a estrada.
Agora,novas aventuras iriam começar!Novas cidades, perigos desconhecidos, e inimigos poderosos as aguardavam em sua jornada!
Quais serão?
Conheça nos próximos episódios !
(Por continuar)
