Foto ilustrativa

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Espelho da Verdade-Episódio 97

Episódio 97

Ao chegarem ao Santuário,Fushiko pediu a Namya uma conversa a sós no quarto dela.
-Pode falar, Fushiko.
-Namya, eu não quis falar na frente da Kogyo, mas eu vi algo de familiar naquele tal de Isamu.
-Familiar?Como assim?
-Olha, eu, você, a Kareni e a Kogyo éramos todas vizinhas e crescemos como se fôssemos irmãs, não é verdade?
-Sim, mas e daí?O que aquele oficial pode ter a ver com isto?
-O sobrenome dele é Arai, não é isto?
-Ainda não entendi aonde você quer chegar, Fushiko!
-Você não se lembra de um tal de Arai que vivia visitando a casa da Kogyo, especialmente quando o pai dela não estava em casa?Lembra que uma vez nós duas estávamos visitando a ela e a mãe dela no pediu para brincarmos em nossos quartos quando o tal Arai chegou?
-Lembro, mas aquele Arai era mais velho do que este Oficial.
-Pois é,mas acontece que eu fiquei sabendo de rumores de que este Arai que conhecemos naquela época é que seria o verdadeiro pai da Kogyo.
-Você acha que...
-Acho não,tenho certeza, aquele Arai vivia fazendo amor com a mãe dela. Um dia eu os peguei no flagrante, foi muito constrangedor!A mãe dela me fez jurar que eu não contaria para ninguém que ele era o amante dela.Ela inclusive me bateu!
-Entendi, entendi,Fushiko, mas tem peças que não se encaixam aí.Aquele Arai era careca, este que conhecemos agora é mais jovem e não é, ele tem cabelos.Ademais,você deve se lembrar que aquele Arai morreu em circunstãncias misteriosas, eque nós fomos ao enterro dele.
-Ah, mas você não se lembra de um rapaz da nossa idade acompanhando o enterro , meio escondido, não é?Pois eu me lembro e fui xeretar, e ele era filho daquele Arai.E sabe qual o nome dele?Pois eu me lembro! Era Isamu!
-Você está brincando, então o Isamu Arai é irmão dela por parte de pai, que o velho Arai teve com outra mulher?
-Sim, com a esposa dele,pois o safado era casado e tinha um filho quando engravidou a mãe da Kogyo;e o que a mãe dela fez?Tratou de fazer amor correndo com o marido dela para que ele não descobrisse!
-Ih, pelos Deuses, e agora, Fushiko, a Kogyo está apaixonada pelo próprio irmão !
-Irmão que ela nunca soube que tinha e que nunca conheceu!Eu não sei como ela não reconheceu o sobrenome!
-Mas o Isao, você tinha visto a ele  no enterro, mas ele nunca deu as caras!
-É, ele sabia da estória toda e tinha vergonha, e se mudou da aldeia para ir morar em Edo.
-Agora é Tokyo,Fushiko.
-Que seja !Mas temos de explicar para ela, e localizar o Isao, os dois precisam se entender!
-Mas como vamos explicar isto à ela, ela vai ficar arrasada! Está toda sonhadora...
-Mas precisamos, temos de dar um jeito,Namya!
-Mas...espere aí, ele me parece  mais velho que a gente!
-Ele tem só três anos a mais que a Kogyo.Eu perguntei a idade dele na época.
-Entendi,Fushiko.Bom, o jeito então é chamar a Kogyo aqui e explicar a situação para ela.
-Vai ser pesado, mas não podemos deixar de fazer isto por ela!
Fushiko então foi chamar Kogyo, que ainda estava na mais profunda apaixonite.
As duas contaram os fatos à ela.
Ela escutou, chocada, e logo começou a chorar.
-Não é justo, não é justo ! O primeiro homem pelo qual me apaixonei depois do Narumeshi é justamente meu irmão!Não é justo!Vocês tem certeza?Tem certeza disto?
Diante da reação de Kogyo, as duas se entreolharam, com pena dela.
-Sim, amiga, por favor, desculpe.Você não vai poder namorar a ele,é errado, não se pode namorar um irmão.
-E  porque não?E se ele se apaixonar por mim também?Eu não o sinto como meu irmão, ele não cresceu comigo, não conviveu comigo, nós temos o mesmo pai, é só!Pai,meu pai, coitado, enganado a vida inteira, e minha mãe, aquela vadia, prostituta, foi abrindo as pernas para qualquer um,que ódio!Eu tinha de nascer justo dela com aquele canalha?
-Calma, Kogyo, calma!
-Calma, nada, Namya, pombas!Para mim meu pai foi aquele que me criou e me educou e me viu crescer, não aquele sem vergonha que engravidou a minha mãe, aquela cadela ordinária,prostituta !Quer mais é saber?Dane-se! Eu vou namorar a ele sim, e que se dane o mundo, não quero saber, mesmo sendo irmão, e dai?Se me amar é o que me importa!Eu não o reconheço como irmão, ele não tem culpa de ter o pai que teve!E mesmo que fosse irmão de sangue, convivido comigo a vida inteira, se eu me apaixonasse por ele, casaria e teria filhos domesmo jeito! O que importa é o amor!
-Kogyo, você não sabe o que está dizzendo, isto é incesto, não...
-Ah, que se exploda o que os outros acham, o que você acha, não quero nem saber, eu vou namorar com ele, vou abrir minhas pernas para ele e dane-se!
Kogyo saiu do quarto furiosa e bateu a porta do quarto com violência e foi chorar em seu quarto.
-Pelos Deuses, eu não tionha idéia de que ela ia ter uma reação destas!Nunca a vi tão nervosa assim na vida !
-Ela está apaixonada, Namya, a paixão é assim mesmo.Agora,o duro vai ser se ele não a quiser, aí a coisa vai estar realmente feia !
-É capaz de ela matá-lo, Fushiko, é melhor chamarmos as outras meninas aqui e fzermos uma reunião de emergência!
Pouco depois a reunião aconteceu.Depois de muita discussão, resolveram deixá-los tomarem suas próprias decisões.Mas quanto ao que fazer se ele a recusasse, ninguém chegou a um consenso.
Ao saírem da reunião,viram um homem fardado com um bouquet de flores na mão.Ele procurava por Kogyo.Era Isamu Arai!

Isamu também estava apaixonado por Kogyo! E agora, o que as meninas poderão fazer?
Qual será a reação dele quando souber?
Será que os irmãos irão namorar?
Será que Isamu vai aceitar a Kogyo mesmo sabendo que é sua meia-irmã?
Respostas no próximo episódio, não percam !

(Por continuar)

Súmula: Aventuras de Bandi

Sabem o que é uma Súmula?
É como se fosse um resumo de uma obra.O autor corta os trecho que acha menos importantes, e coloca só alguns que considera mais essenciais para o entendimento da obra.
Hoje posto aqui a súmula de um conto meu:"Aventuras de Bandi".O texto original tem 10 páginas, muita coisa foi cortada ou retirada, mas o essencial está aqui,reduzido a 5 páginas somente.
Bom, espero que gostem e...Boa leitura !

Cristiano Camargo

AVENTURAS DE BANDI



Eu me lembro até hoje do meu cachorrinho Bandi.Foi há muito, muito tempo atrás...está bem, está bem, não sou tão velho assim...


Porto Nacional, Tocantins, 1996 :

Uma bela e quente manhã, minha mãe chegou com um presente:
Era um belo e gracioso cachorrinho vira latas,de focinho comprido, e orelhas indecisas, que não sabiam direito se caiam ou ficavam em pé.Era branco e preto, na verdade mais preto do que branco, tinha olhos vivos e inteligentes,temperamento alegre e jovial.
Era um filhotinho de apenas três meses de idade, e estava bastante magro, pois não era um dos mais fortes e maiores da ninhada, e talvez por ser o menor e mais fraco minha mãe tenha se afeiçoado a ele.E eu também.
No inicio, minha mãe queria que ele ficasse no quintal da casa, na verdade, num deles, pois a casa tinha dois quintais separados por uma mureta.Este segundo quintal que ela queria que ele ficasse era cheio de mato alto.
Bandi tinha muita energia e corria feito louco, e adorava brincar mordendo e pulando.Não ligava muito para agrados e abraços ou afagos, mas queria ação, aventura.
Tinha uma força de vontade tremenda e nunca se dava por vencido, quando tinha um objetivo na cabeça.
Ele era tremendamente inteligente e esperto também.
Na primeira noite, como todo filhote novo,chorou tanto que tive de ir busca-lo, e ficar com ele na garagem um bom tempo.
Na época eu tinha acabado de descobrir que eu tinha diabetes, então todas as manhãs eu saia de bicicleta pelo bairro, então em construção , isolado da cidade,cheio de ruas de terra, e o Bandi ia correndo atrás de mim. Brincalhão e danado, ele ficava tentando morder meus pés, me fazendo correr depressa!
E quanto mais eu corria, mais ele corria, e as vezes ele inclusive me ultrapassava!
Um dia, numa destas corridas, uma corujinha, postada em cima de uma árvore, resolveu entrar na brincadeira, e nos perseguia.
Bandi não perdia tempo e tentava agarrá-la em pleno ar, saltando e correndo,parecia que  também queria voar !
Com o tempo, Bandi e a coruja ficaram amigos, e ela sempre nos acompanhava nas nossas corridas, e ela fazia vôos rasantes bem perto do meu pescoço, e então eu desandava a correr mais ainda, e era quando Bandi se sentia desafiado, e me ultrapassava ,nao so´ a mim , mas  à coruja também !
Era um tempo alegre, e nunca vi um cão tão feliz , com tanta sede de liberdade e vontade de viver como ele !
Todos os dias ele tentava pular a mureta que separava os nossos quintais, e revelou-se obstinado com isto.Não parecia ser apenas uma questão de amor ‘a liberdade, ele queria na verdade ficar dentro de casa e nos fazer compania. Penso que ele detestava ficar sozinho e queria sempre nos fazer compania.
Ele não sossegou enquanto não pulou a mureta, e um dia ele conseguiu.E quando ele conseguiu, ele fez tanta festa, estava tão feliz que dava para ver isto na expressão daqueles olhos tão vivos!
Doravante muro algum, por mais alto que fosse, conseguiu dete-lo! Energético e determinado, livre, assim era o Bandi !
Todas as manhãs no entanto , Bandi me acordava.
Bastava a Raimunda chegar e abrir a casa pela manhã, que ele já entrava e ia ao meu quarto. Como minha porta estava fechada,ele começava a bater com a cauda na porta e latir, ate´eu acordar e abrir a porta. Às vezes ele ficava pulando e latindo do lado de fora da janela até eu acordar!
Aí ele vinha alegre, para brincar, e não sossegava enquanto eu não pegasse a bicicleta e saísse com ele para passear.
Uma noite apareceu uma aranha caranguejeira do tamanho de um prato de sobremesa na garagem.Tentei matá-la com a vassoura, mas ela se enfureceu e  me enfrentou, ficando com um aspecto ainda mais ameaçador.
Chamei o Bandi, já que ele adorava caçar insetos, que ali existiam em abundância.
Mas ele era esperto e sabia que aquele bicho não tinha nada de inofensivo,e ficou latindo à distancia, sem enfrenta-la. Ele mesmo parecia amedrontado com ela.Acabei colocando ele para dentro, fechando todas as janelas e portas, e colocando panos fechando todas as frestas debaixo das portas para que a enorme aranha não entrasse.
Porto Nacional era uma cidade típica do Norte do Brasil, e lá, além de um calor fenomenal, e uma multidão interminável de insetos, tinha como característica a cultura daquele povo de nunca prender os cães e eles passearem sozinhos pela cidade. Alguém passear com o cachorro na coleira e corrente  por lá era considerado quase tão estranho quanto um ET.
Mas nem todas as lembranças são tão alegres assim.
Um dia Bandi amanheceu fraco e desanimado.
Eu logo percebi, e ao ver que ele tremia de frio naquele calorão, percebi que ele tinha febre. Ele tinha pegado uma pneumonia !
Levamos , eu e minha mãe , a ele no veterinário, que deu um remédio para ele tomar por algum tempo.
Levamos ele para casa, e ele ficava o dia todo deitado de lado, e fazê-lo comer alguma coisa era tarefa difícil.As vezes ele tentava latir, mas , coitado, o esforço era demais e ele não conseguia. Mas sempre abanava a cauda, ainda que fracamente, quando via a mim ou minha mãe.
Então um dia ele estava estirado no quintal, e eu e minha mãe estávamos muito preocupados, porque a infecção não regredia.
Foi quando chegou a corujinha e se encarapitou no muro, e ficou de vigília por Bandi, e de la não saiu ate´ele sarar.
Ela piava:
-Uu, Uuu !
E Bandi, levantava a cabeça e tentava latir, com esforço.
Os dias foram passando e a Coruja continuava lá, dia e noite, desafiando ele a pegá-la, piando:
-Uu, Uu !
Bandi foi se recuperando e a impressão que ele nos dava era a de que , encorajado pela amiga coruja, ele insistia em viver e lutava contra a infecção com todas as suas forças, pois queria de qualquer jeito pega - la, mas parecia ficar animado em ver que ela estava com ele mesmo naquelas horas difíceis.

Um dia ele levantou a cabeça e conseguiu latir, então se levantou e correu atrás da coruja com a velha alegria de viver de sempre. Comovido, corri para abrir o portão e deixá-lo sair, e lá se foram os dois brincando, um correndo a outra voando.
Quando ele voltou eu o abracei forte, feliz por vê-lo recuperado, forte e saudável!
Bandi acima de tudo amava a Vida e a Liberdade!
Nunca mais caiu doente.Tinha uma saúde de ferro, este Bandi !
E a alegria de viver e a vivacidade que ele mostrava enquanto fazia isto muito me emocionavam, eu nunca vi um cachorro amar a vida tanto assim!
A alegria dele  estava estampada em seus olhos, ele era acima de tudo um cão feliz e de bem com a vida e é assim que eu gosto de me lembrar dele.
Mas infelizmente aqueles tempos felizes estavam terminando, pois eu já não suportava mais a precariedade da vida num lugar assim tão agreste, e queria voltar a São Paulo e ir morar com a minha irmã, que tinha regressado dos Estados Unidos naquela época.
Um dia vendi minhas coisas e coloquei as malas no carro ,tentando esconder de Bandi a minha partida. Mas ele era esperto e sabia que alguma coisa estava errada, e estava inquieto.
Então me despedi dele, abraçando-o com força.Embora eu soubesse que ,é claro, ele não tinha condições de entender o que eu dizia, já que os cães são incapazes de raciocinar,eu precisava desabafar e disse a ele para que cuidasse de si e da minha mãe direitinho,que  eu estava partindo e que um dia voltaria...
Mal sabia eu que não conseguiria cumprir esta promessa e o quão mal eu iria me sentir no futuro por abandona-lo e não conseguir revê-lo outra vez !
Entrei no carro não sem prende-lo na corrente e minha mãe me levou na rodoviária.
Imediatamente Bandi ficou muito agitado, e gemia e chorava como que em desespero, querendo seguir o carro de qualquer jeito.Ele parecia sentir que eu nunca mais voltaria, e eu, por outro lado, ficava preocupado com o que seria dele doravante...
Quando aquele ônibus cruzou a ponte do Rio Tocantins, imenso, tornando o por do sol ainda mais majestoso, eu senti que terminava ali mais uma fase da minha vida e toda a insegurança de um futuro incerto.
As saudades me cortavam o coração, e de certa forma eu me sentia culpado por deixar a minha mãe ali sozinha naquele fim de mundo, mas eu sentia por outro lado que eu precisava ter minha própria vida e era hora de viver sozinho.
Mas o que fazia brotar as lágrimas dos meus olhos eram as saudades de Bandi.O tempo do Tocantins não fora em si feliz, fora um tempo de provações e dificuldades, de isolamento.Mas são os entes queridos, mesmo que nem mesmo sejam humanos, que fazem a felicidade das pessoas e fazem a vida e o lugar onde estamos nos fazer sentido.
Bandi então fez destes tempos amargos um tempo feliz, com lembranças ternas e duradouras, e dentro daquele ônibus cruzando a ponte meu sentimento era o de que eu estivesse abandonando a um filho, para não mais vê-lo.Como no poema de Edgar Allan Poe, nunca mais...
Nunca mais consegui revê-lo em minha vida, e dez anos se passaram, talvêz inclusive ele já não esteja mais entre os vivos, ou se estiver , estará bem idoso.
Mas a lembrança dele ficara no meu coração para sempre, pois ele marcou minha vida como um grande companheiro num dos momentos mais difíceis da minha vida, e me ajudou a agüentar tudo, e da vontade de que ele pudesse ser capaz de raciocinar e me entender, pois a vontade no coração era de agradecer a ele por toda a alegria de viver, o amor a liberdade,o amor a vida, este é o legado de Bandi, ter me ensinado o valor do amor a vida, a lição de que se deve lutar com alegria mesmo sob as piores condições e nos momentos mais difíceis, eis que pois a vida vale a pena viver !
Siga então pela estrada da vida, correndo alegremente ao por do sol, atrás de sua amiga coruja,Bandi, pois e´desta forma que quero sempre me lembrar de você, sempre, e e´assim que minhas lembranças de ti ficarão para sempre no meu coração...


Fim



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