Foto ilustrativa

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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Espelho da Verdade-Episódio 22

Episódio 22



Minoko e Rei se encaravam  desafiadoramente.
A coisa estava demorando, porque ninguém queria dar o primeiro golpe.
Fushiko, impaciente, resolveu fazer as coisas começarem logo de uma vez, e deu um empurrão nas costas agora musculosas e rijas de Minoko, fortalecida em seus músculos depois de tanto treinamento.
Ao dar este passo a frente, Rei, como era esperado reagiu, e sua espada zumbiu, cortando o ar rápida como um raio!
Minoko interceptou o golpe,e revidou, e as espadas giravam e dançavam seu ballet da morte no ar, os assovios das espadas rasgando o ar chegavam a soar sinistros.
Mas até então, ninguém se machucou.Ainda.
A velocidade dos golpes foi aumentando mais e mais, e o pequeno porte e a agilidade superior da menininha dificultavam muito a tarefa de Minoko.Ela sabia que não poderia vencer na base da velocidade e da agilidade,mas que sua oponente, não "dançava" a sua volta a toa, gastando energia sem necessidade.Durante o treinamento Minoko tinha aprendido a importância de preservar a energia e o fôlego durante o combate.Mas ela sabia que sua força física era bem maior do que a da criança-prodígio com quem lutava,então,procurava só se defender dos golpes e arremeter pouco, mas com muita força.Claro que Rei percebeu sua estratégia, e procurava evitar os golpes forte, e sabia muito bem que não podia "travar" uma espada na outra, pois perderia.Como os braços de Rei eram mais curtos, ela tinha de se aproximar mais, portanto se expor mais, e Minoko sabia que não podia deixar a menina se aproximar muito, pois senão ela perderia a vantagem de lutar mais de longe, e aí a agilidade maior e o corpo menor de sua oponente faria com que brechas em sua guarda fossem exploradas.Já Rei tentava se aproximar mais e mais.
Vendo que sua oponente estava conseguindo se aproximar e os golpes estavam ficando cada vez mais curtos de sua parte,inesperadamente, Minoko teve uma idéia:
Quando suas espadas se cruzaram, próximas ao seu peito, ela súbitamente saltou e deu uma cabeçada em Rei, e ao passar por ela, a golpeou com o cabo da espada nas costas.
Rei,surpreendida, caiu de boca no chão e engoliu areia.
Minoko então arrancou a espada da menina da mão e a jogou longe, pegou -a no colo e a imobilizou com um abraço!
A menina esperneava, mas, claro,não conseguia se soltar.
-Tudo bem, Rei-san, você perdeu.Acabou a luta.Disse Mutsumi, divertida.
-Assim não vale !Foi um golpe sujo, um golpe baixo!Isto não faz parte da esgrima, Mestra!
-Não, mas é algo que um oponente poderia te fazer.Você tem de estar preparada para tudo num combate. Mas tanto você como a Minoko lutaram muito bem,e declaro Minoko como a vencedora.
Rei baixou os olhos. Aquilo soou comouma ordem, ela engoliu em sêco o seu orgulho,e reconheceu sua derrota.
Minoko a colocou no chão e a soltou.
-Você está livre, Minoko-san, não é mais minha escrava.Por favor desculpe pelo jeito que a tratei.
-Não há o que desculpar,Rei-sensei, eu aprendi muito com você.No fundo você é uma menina boa, apenas é levada e arteira como qualquer criança, e só queria a minha atenção e não sabia como consegui-la.Eu é que tenho muito o que lhe agradecer, pelo tanto que você me ensinou, muito obrigada por tudo,Rei-sensei.Amigas?
-Amigas !Disse Rei, correndo a abraçá-la e dar -lhe um beijo no rosto.
Na verdade, tudo o que Rei precisava era de amor e carinho, se sentir querida.
Ao abraçar a menina, Minoko sentiu uma estranha sensação.Era como se ela se sentisse mãe daquela menina tão sofrida e carente, e um profundo vazio se fez sentir em sua alma,algo que a parte masculina de sua mente não conseguia entender, mas que a parte feminina sentia muito forte,como um instinto avassalador e irresistível,que conseguia ofuscar a parte masculina completamente.Vontade de ser mãe!
Uma lágrima caiu dos olhos de Minoko, ao encarar aqueles olhinhos infantis de perto e dizer:
-Filha...
Ninguém sabia explicar,mas houve uma empatia tão forte, tão repentina, que Rei percebeu, e seus olhinhos marejaram imediatamente, e ela  balbuciou, nervosa:
-Mamãe...
As duas começaram a chorar copiosamente no ombro uma da outra, o que emovcionou e comoveu profundamente a todas ali.
Mutsumi em especial estava tocada, pois há anos criava a menina, mas nunca tinha conseguido uma empatia tão grande com ela assim.Em seu rosto, a expressão da mais prounda mágoa lhe marcava o rosto, que se esforçava para não chorar, pois não queria parecer fraca diante das outras.
A partir dali, Rei e Minoko seriam unha e carne,mais amigas do que nunca !
Embora Minoko não fosse mãe dela, nem Rei, a filha, elas se comportavam exatamente como se fossem,e como se já se conhecessem há muito tempo!
Mas aquele tempo estava terminando.Agora Minoko , e somente ela, iria treinar com Mutsumi, e acabar de completar seu treinamento.Depois, Minoko sentia que deveria seguir em frente,pois não queria ficar parada lá.
Agora as garotas trabalhavam para Shinobu, enquanto Minoko treinava duro.Nos poucos momentos de folga,ela e Rei brincavam juntas, passando a impressão à Mutsumi  de que Minoko tivesse nascido mulher e sido mulher a vida toda, pois brincava como se fosse uma menina de dez anos,e a própria Minoko ia descobrindo todo um lado novo e escondido da aparentemente feroz   e arrogante Rei;uma menina delicada, sensível,carinhosa,gentil,brincalhona, cheia de vida,alegre,afável,doce e amorosa.Elas continuavam se chamando de "mãe" e "filha", o tempo todo, para a profunda inveja e vazio existencial de Mutsumi, que a noite ficava pensativa,refletindo sobre em quê ela tinha errado na educação daquela menina que ela tinha pegado para criar ainda pequenina,à qual ela tinha se afeiçoado tanto.Era a mãe adotiva, mas percebia que cada vez mais Rei se afastava dela, e se aproximava de Minoko.Às vezes ela tinha de espantar pensamentos peçonhentos e invejosos da cabeça, tipo "nem mulher ela é direito, e conquistou minha filha","acho que vou ter de matá-la para ter minha filha de volta","eu não devia a estar treinando";mas ela sabia que derrotar Minoko só iria afastar sua filha ainda mais dela,e pior, poderia ter de enfrentar a fúria assassina de sua própria filha e discipula, e , além de saber que adversária formidável Rei era, ela não podia nem pensar em enfrentar Rei numa luta de verdade até a morte,nem muito menos ter de matá-la com suas próprias mãos-preferia se deixar matar por ela do que ter de fazer isto.Na verdade-conclusão a que chegava todos os dias- não havia o que fazer:Minoko e suas amigas não tardariam a ir embora,e certamente Rei iria querer ir com elas.Mas ela não poderia ir, apesar da receptividade das meninas, pois doía-lhe ver sua filha ser mais de uma quase desconhecida do que sua.Mas sabia que Rei precisava, e ansiava por liberdade, e não poderia tolher isto dela-filhos são criados para o Mundo, não para os pais,e devem seguir seus próprios caminhos.
Enfim, o último dia de treinamento  de Minoko chegou, e no dia seguinte, ela e as meninas iriam partir.Rei já tinha expressado claramente sua intenção de se juntar a elas.A noite estava programada uma festa no esconderijo,para comemorar o aniversário de onze anos de Rei.
Porém, depois do último treinamento completado, e depois de descansar um pouco, Minoko e Rei foram buscar lenha para a fogueira num bosque próximo.
Foi quando viram uma garota, aparentando quinze ou dezesseis anos de idade sendo massacrada por um bando de dez homens muito mal encarados.Ela levava uma sacola com jóias e moedas,que roubaram dela, e ela estava sendo abusada por eles,de mão em mão,mãos estas que lhe rasgavam as roupas e lhe faziam mão boba por todo o corpo.Se as duas não agissem logo, o estupro em série logo começaria.
-Ei, vocês ai!Porque não mexem com alguém do seu tamanho?
-Huum, ela é melhor do que esta daqui!Disse um dos homens, e passou uma faca pelo pescoço da moçinha, cortando-lhe a jugular.O sangue espirrou forte, com alta pressão, e ela tombou morta.
-Vocês vão pagar por isto, ah, se vão !Disse Minoko, sacando sua espada.Rei também sacou a dela.
-Mãe, deixa eles comigo, vai ser fácil !São só bandoleiros de estrada, não lutam nada.
-Filha, melhor lutarmos juntas, eles são muito fortes!
As duas, já cercadas pelos homens, prepararam-se.Seus algozes tinham facas, porretes,paus e pedras. Um tinha uma arma que Minoko nunca tinha visto na vida:um revólver.
-Venham nos enfrentar, seus covardes!
-Chefe, posso ficar com a menininha?Eu adoro estuprar menininhas !
-Ela é sua.
Disse o chefe dos bandoleiros ao seu comandado.
-Jamais! Jamais vão tocar em um fio de cabelo da minha filha ! Jamais !Disse  Minoko, atacando com ferocidade, e olhar de lobo ao dar o bote.
Dois dos homens tombaram mortos.Rei também atacou, matando mais dois fácilmente.
-Vocês vão pagar por isto !Vou vingar meus homens! Esta arma eu roubei de um soldado do Exército do Imperador,e espadas nada podem contra ela !
Tiro !
-Aaaaaaaahn!
-Fiiiilhaaaaa!
Um pequeno corpo tomba para trás.Uma poça de sangue se faz por trás de suas costas e mancha o chão da floresta.
-Filhaaaaaaaa!Nãaaaaaaao!Berrou Minoko, desesperada!
O tiro tinha atingido o pulmão direito, e a varado de fora a fora, e com a perda de sangue, a pressão caiu demais e ela desmaiou.
Agora o olhar de Minoko tinha a expressão de um tigre caçando! Ela rosnava por entre as lágrimas,com uma cara medonha e sua mão incrispou-se no cabo da espada.
Mas dois dos homens estavam atrás dela, e a seguraram pelos braços.Um terceiro aproveitou-se que ela estava prêsa e tirou as roupas de Rei e começou a tentar estuprá-la enquanto ela agonizava, sem consciência.Ao ver o corpo da "filha" sendo brutalmente assaltado, de maneira tão covarde, a raiva subiu-lhe à cabeça mais ainda,e ela passou a enxergar tudo vermelho!
Adquiriu uma fôrça sobre-humana, repentinamente, desvencilhou-se dos dois homens, e alcançou a espada que era de Rei.
Com uma espada em cada mão, ela saltou no ar como um tigre, girou em volta do seu próprio eixo, e as cabeças de todos os bandidos voou longe, arrancadas pelas lâminas afiadíssimas!Todos eles tombaram mortos.
Ela então correu para a "filha".
Minoko, se sentindo culpada, debruçou-se em cima do peito de Rei e chorou escandalosamente, com uma dor que parecia fazer seu coração pesar toneladas, um vazio na alma que lhe doía como as chagas do inferno,insuportáveis,e a culpa lhe pesava na consciência, como se ela tivesse uma prensa enorme na cabeça, esmigalhando-lhe o crânio!
Foi então que sua orelha, mergulhada no kimono aberto ensopado de lágrimas e sangue,percebeu o som de batimentos cardíacos muito fracos, e que pareciam estar fraquejando! Rei estava morrendo !

E agora?Será que Rei sobreviverá?
Mais, no próximo episódio...

(Por continuar)