Foto ilustrativa

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quinta-feira, 31 de março de 2011

Série Especial: Consciência de Viver-Capítulo 7




Capítulo 7

Era o que soava em seu cérebro. Logo vieram, em um "aleggro" desenfreado, os relâmpagos, os raios, os trovões trombeteantes e o uivar furioso do vento na janela. Mas desta vez foi diferente, pois a tudo isso que era de costume foi somado um cadavérico relincho. Ressoava pela casa toda. E o clarão dos relâmpagos revelou a tão tenebrosa imagem do Espectro, dissimulada, apenas sugerida.
 Mas, sim, foi o bastante para Ele se apavorar até a medula novamente.
Ele levantou da cama espavorido, correu pela casa doidamente, sem saber para onde ir, e o Monstro parecia rondar toda a casa, pois aparecia em cada janela.
 Ele voltou ao quarto e bateu a porta com violência. Suava e chorava copiosamente. Foi então que começou a ouvir uma tétrica marcha fúnebre. E a porta exerceu sobre Ele intenso magnetismo, pois acabou abrindo-a. E o que viu, ah, o que viu, ele jamais se esqueceria! Nada lhe poderia ser mais assustador! Pelo longuíssimo corredor principal da casa que desembocava em seu quarto, Ele viu uma espécie de desfile: em dupla fila indiana, capitaneada pelo Espectro eqüino, estavam perfilados marchando ao som das trombetas os esqueletos de todos os animais existentes na natureza, atuais ou mesmo extintos. Vinham todos em sua direção. Ao chegarem à porta, o Espectro lhe deu um espelho de mão. Ele se lembrou de que há muitos anos não se olhava no espelho (estavam todos completamente destruídos na casa) e há muito não sabia como era o seu aspecto. Ao olhar-se, agora, refletiu-se a imagem de uma caveira humana semidescarnada. O susto foi tamanho, principalmente ao ver aquele exército de ossos, que terminou desmaiando de novo. Quando acordou, já era dia, a chuva passara, e não havia mais qualquer espectro pela casa. Sentiu-se aliviado.
Ele se lembrou, então, de um aposento pouco explorado e que não visitava havia anos: O escritório! E para lá se dirigiu.
Lá estava. A enorme escrivaninha de madeira maltratada, cheia de teias de aranha e coberta por um vidro plano amarelado e opaco. A grande cadeira de couro, de espaldar altíssimo, com seus pés de madeira maciça, toda cheia de botões em estilo Capitonee. Em cima da mesa, estava um pesado livro de contas e anotações que jazia ainda aberto em uma página central. No alto de cada página se lia: "Livro da Companhia".
Ele se sentou na cadeira. De agora em diante ela seria seu trono. Não sabia bem o porquê, mas se sentia todo poderoso lá, olhando todos aqueles escritos arruinados e misteriosos que ele não entendia, mas interpretava como queria. Sentia-se heróico e parecia olhar por cima do mundo dali.
Mas de onde sobrevinha tanto poder? O que tinha aquela cadeira e aquela mesa que lhe auferia tanta divindade? Ele queria mesmo ser um ditador ou sua alma não era por acaso bondosa e generosa?
Ele tinha dúvidas, todas as dúvidas do mundo. Como realmente era seu caráter? Será que era bom, ruim, equilibrado, hipócrita? Quais as suas verdadeiras qualidades, defeitos? Não conseguia achar as respostas.
Uma frase, no entanto, alojou-se em sua mente: "o fraco que se sente o forte". Pronto! Ela agora o atormentaria pelo resto do dia, infernalmente.
Sua mente desta vez estava travada. Totalmente. Queria se distrair, pensar em outra coisa, mas era impossível. Só aquela frase lhe martelava o cérebro, e mais uma enxaqueca se avizinhava! Sim, estava inconformado. Não entendia o porquê de só conseguir pensar assim. Chegou à conclusão: Tinha de entender e analisar essa frase! O fraco que se sente o forte.
Ele por acaso se sentia fraco? Se via como tal ? Ou se sentia forte por se achar forte? É preciso estar fraco para se sentir forte, ou se pode ser e sentir forte ao mesmo tempo? O que é ser fraco? O que é ser forte?
As dúvidas não o deixavam em paz.
A cada questão, uma dúvida. Por que Ele seria fraco? Tinha de associar essa característica com alguma coisa.
Ora! Ele pensou: – Sou fraco porque temo o Espectro, e ele é forte porque me domina! Mas se eu não o temer, por que não?, quer dizer, eu serei forte e ele fraco e o dominarei. Mas por que eu o temo?
Ele começou a refletir as razões de tamanho temor. Ele era menor que o cavalo, menos musculoso, com menor força física. Andava em duas pernas, não em quatro. O cavalo sabia como assustá-lo, e Ele não tinha como enfrentá-lo nem como adivinhar seus próximos passos. Então, concluiu, o cavalo era mais inteligente do que ele!
Estava sentado naquela cadeira o tempo todo, absorto em seus pensamentos, cabisbaixo, olhando para a escrivaninha. Quando ele levantou, viu, sentado na cadeira à frente da escrivaninha, de pernas traseiras cruzadas e com a cabeçorra apoiada pelas patas dianteiras, em posição de enorme curiosidade... o Espectro! Ao se notar visto, suas órbitas vermelhas brilharam e o maxilar inferior abaixou-se.
Uma risada sinistra ressoou por toda a casa. Ele ficou paralisado pelo mais puro terror. Seu mundo de poder veio abaixo como a implosão de um edifício, cruel e brutalmente. Foi aí que o Espectro se levantou, deliciado pelos efeitos de sua aparição, e saiu andando calmamente do escritório.
Quando se recuperou desta visão, voltou ao seu quarto. Deitou-se novamente e abriu seu livro de cabeceira, retirando-o de cima do criado-mudo.
 Estava aberto mais ou menos na altura das páginas centrais. Leu com atenção e ficou pensativo.
Foi naquele momento que ele chegou à conclusão de que sua insegurança era fruto direto de sua solidão e que, se tivesse alguém ao seu lado, se sentiria muito mais seguro de si mesmo, teria muito maior autodomínio e, portanto, seria muito mais feliz.
Mas aquilo tudo era muito teórico. Precisava ser posto em prática. Como? Ele achou, então, que se enfrentasse o Espectro aí sim já teria dado realmente um grande passo. Decididamente se dirigiu novamente ao escritório. Sentou-se atrás da mesa e mentalmente ordenou que o Espectro aparecesse, chegando mesmo a desafiá-lo.
Ele mesmo sabia que tremia de medo só de pensar na aparição, mas tentava conter-se temeroso do seu próprio atrevimento. Ele havia se cansado. Exausto de tanto fugir, de tanto temer, um dia fatalmente teria de enfrentar o Cavalo, e era melhor que fosse agora. Era preciso. Ou teria de fugir pelo resto da vida!
Ele ouviu passos. Sim, pesados e fortes passos ungulados, ritmados, poderosos passos seguidos da sombra ameaçadora. Em todo o seu porte e seu poder, o Espectro chegou. Mentalmente, Ele iniciou um diálogo com o eqüino (sem falar, é claro!):
- Aproxime-se mais!
- O que se atreve a querer de mim, Ele?
- Você é um cavalo.
- Sooou muuuito maaais que iiissooo! O Espectro, Senhor de todo o seu mêeeedooo!
- Está enganado. Você não está morto nem é só ossos!

(Por continuar) 

Link para o Episódio 11 corrigido de Antes daquela fria manhã de outono

Link para o Episódio 11  corrigido de Antes daquela fria manhã de outono:
http://sensibilidadedeescrever.blogspot.com/2011_03_30_archive.html
Ah, sim, já deixo avisado:este episódio é para quem tem estõmago  e coração fortes,pois mostra em detalhes como foi o acidente de avião de Nami, e mostra também como foi a morte dela, em riqueza de detalhes, como se fosse um filme em cãmra lenta .

Abraços a todos,
Cristiano Camargo 

Errata

Oi, gente!
Olha, quero me desculpar pela confusão que fiz dia 30 agora  na hora de postar o episódio 11 da minissérie Antes daquela fria manhã de Outono:eu postei com o título de episódio 11, mas o conteúdo que saiu foi do episódio 12, que também já estava pronto.Acabei de corrigir o erro, então, quem quiser ficar por dentro da minissérie , por favor vá no link do dia 28 de março de 2011, no lado esquerdo da tela, e leiam o verdadeiro episódio 11.O episódio 12 será re-publicado no dia 2 de Abril, depois de amanhã, sem falta.
Mais uma vez peço reinteradas desculpas a vocês!
Abraços a todos,


Cristiano Camargo

Ainda sobre o aniversário

Caros(as) amigos(as) e leitores(as):
Como amanhã é meu aniversário, e portanto um dia especial, já vos deixo alertados desde agora que amanhã não ião ser postados episódios da novelinha O Espelho da Verdade -Volume 2, nem da minissérie Antes daquela fria manhã de Outono, nem também o capítulo da Série Especial Consciência de Viver,apenas serão postados o Episódio Especial de aniversário da saga Naquela Fria manhã de Outono e a ilustração especial de aniversário.Mas a partir de depois de amanhã,dia 2 de Abril, tudo volta ao normal, com os episódios e capítulos da novelinha, da minissérie e da série especial, como sempre.
Ah, sim, dia 3 de abril postarei uma poesia em homenagem ao aniverário de minha irmã Maria Júlia, que, como vêem, faz aniversário apenas dois dias depois de mim. 

Abraços a todos!

Cristiano Camargo!