Foto ilustrativa

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quinta-feira, 31 de março de 2011

Série Especial: Consciência de Viver-Capítulo 7




Capítulo 7

Era o que soava em seu cérebro. Logo vieram, em um "aleggro" desenfreado, os relâmpagos, os raios, os trovões trombeteantes e o uivar furioso do vento na janela. Mas desta vez foi diferente, pois a tudo isso que era de costume foi somado um cadavérico relincho. Ressoava pela casa toda. E o clarão dos relâmpagos revelou a tão tenebrosa imagem do Espectro, dissimulada, apenas sugerida.
 Mas, sim, foi o bastante para Ele se apavorar até a medula novamente.
Ele levantou da cama espavorido, correu pela casa doidamente, sem saber para onde ir, e o Monstro parecia rondar toda a casa, pois aparecia em cada janela.
 Ele voltou ao quarto e bateu a porta com violência. Suava e chorava copiosamente. Foi então que começou a ouvir uma tétrica marcha fúnebre. E a porta exerceu sobre Ele intenso magnetismo, pois acabou abrindo-a. E o que viu, ah, o que viu, ele jamais se esqueceria! Nada lhe poderia ser mais assustador! Pelo longuíssimo corredor principal da casa que desembocava em seu quarto, Ele viu uma espécie de desfile: em dupla fila indiana, capitaneada pelo Espectro eqüino, estavam perfilados marchando ao som das trombetas os esqueletos de todos os animais existentes na natureza, atuais ou mesmo extintos. Vinham todos em sua direção. Ao chegarem à porta, o Espectro lhe deu um espelho de mão. Ele se lembrou de que há muitos anos não se olhava no espelho (estavam todos completamente destruídos na casa) e há muito não sabia como era o seu aspecto. Ao olhar-se, agora, refletiu-se a imagem de uma caveira humana semidescarnada. O susto foi tamanho, principalmente ao ver aquele exército de ossos, que terminou desmaiando de novo. Quando acordou, já era dia, a chuva passara, e não havia mais qualquer espectro pela casa. Sentiu-se aliviado.
Ele se lembrou, então, de um aposento pouco explorado e que não visitava havia anos: O escritório! E para lá se dirigiu.
Lá estava. A enorme escrivaninha de madeira maltratada, cheia de teias de aranha e coberta por um vidro plano amarelado e opaco. A grande cadeira de couro, de espaldar altíssimo, com seus pés de madeira maciça, toda cheia de botões em estilo Capitonee. Em cima da mesa, estava um pesado livro de contas e anotações que jazia ainda aberto em uma página central. No alto de cada página se lia: "Livro da Companhia".
Ele se sentou na cadeira. De agora em diante ela seria seu trono. Não sabia bem o porquê, mas se sentia todo poderoso lá, olhando todos aqueles escritos arruinados e misteriosos que ele não entendia, mas interpretava como queria. Sentia-se heróico e parecia olhar por cima do mundo dali.
Mas de onde sobrevinha tanto poder? O que tinha aquela cadeira e aquela mesa que lhe auferia tanta divindade? Ele queria mesmo ser um ditador ou sua alma não era por acaso bondosa e generosa?
Ele tinha dúvidas, todas as dúvidas do mundo. Como realmente era seu caráter? Será que era bom, ruim, equilibrado, hipócrita? Quais as suas verdadeiras qualidades, defeitos? Não conseguia achar as respostas.
Uma frase, no entanto, alojou-se em sua mente: "o fraco que se sente o forte". Pronto! Ela agora o atormentaria pelo resto do dia, infernalmente.
Sua mente desta vez estava travada. Totalmente. Queria se distrair, pensar em outra coisa, mas era impossível. Só aquela frase lhe martelava o cérebro, e mais uma enxaqueca se avizinhava! Sim, estava inconformado. Não entendia o porquê de só conseguir pensar assim. Chegou à conclusão: Tinha de entender e analisar essa frase! O fraco que se sente o forte.
Ele por acaso se sentia fraco? Se via como tal ? Ou se sentia forte por se achar forte? É preciso estar fraco para se sentir forte, ou se pode ser e sentir forte ao mesmo tempo? O que é ser fraco? O que é ser forte?
As dúvidas não o deixavam em paz.
A cada questão, uma dúvida. Por que Ele seria fraco? Tinha de associar essa característica com alguma coisa.
Ora! Ele pensou: – Sou fraco porque temo o Espectro, e ele é forte porque me domina! Mas se eu não o temer, por que não?, quer dizer, eu serei forte e ele fraco e o dominarei. Mas por que eu o temo?
Ele começou a refletir as razões de tamanho temor. Ele era menor que o cavalo, menos musculoso, com menor força física. Andava em duas pernas, não em quatro. O cavalo sabia como assustá-lo, e Ele não tinha como enfrentá-lo nem como adivinhar seus próximos passos. Então, concluiu, o cavalo era mais inteligente do que ele!
Estava sentado naquela cadeira o tempo todo, absorto em seus pensamentos, cabisbaixo, olhando para a escrivaninha. Quando ele levantou, viu, sentado na cadeira à frente da escrivaninha, de pernas traseiras cruzadas e com a cabeçorra apoiada pelas patas dianteiras, em posição de enorme curiosidade... o Espectro! Ao se notar visto, suas órbitas vermelhas brilharam e o maxilar inferior abaixou-se.
Uma risada sinistra ressoou por toda a casa. Ele ficou paralisado pelo mais puro terror. Seu mundo de poder veio abaixo como a implosão de um edifício, cruel e brutalmente. Foi aí que o Espectro se levantou, deliciado pelos efeitos de sua aparição, e saiu andando calmamente do escritório.
Quando se recuperou desta visão, voltou ao seu quarto. Deitou-se novamente e abriu seu livro de cabeceira, retirando-o de cima do criado-mudo.
 Estava aberto mais ou menos na altura das páginas centrais. Leu com atenção e ficou pensativo.
Foi naquele momento que ele chegou à conclusão de que sua insegurança era fruto direto de sua solidão e que, se tivesse alguém ao seu lado, se sentiria muito mais seguro de si mesmo, teria muito maior autodomínio e, portanto, seria muito mais feliz.
Mas aquilo tudo era muito teórico. Precisava ser posto em prática. Como? Ele achou, então, que se enfrentasse o Espectro aí sim já teria dado realmente um grande passo. Decididamente se dirigiu novamente ao escritório. Sentou-se atrás da mesa e mentalmente ordenou que o Espectro aparecesse, chegando mesmo a desafiá-lo.
Ele mesmo sabia que tremia de medo só de pensar na aparição, mas tentava conter-se temeroso do seu próprio atrevimento. Ele havia se cansado. Exausto de tanto fugir, de tanto temer, um dia fatalmente teria de enfrentar o Cavalo, e era melhor que fosse agora. Era preciso. Ou teria de fugir pelo resto da vida!
Ele ouviu passos. Sim, pesados e fortes passos ungulados, ritmados, poderosos passos seguidos da sombra ameaçadora. Em todo o seu porte e seu poder, o Espectro chegou. Mentalmente, Ele iniciou um diálogo com o eqüino (sem falar, é claro!):
- Aproxime-se mais!
- O que se atreve a querer de mim, Ele?
- Você é um cavalo.
- Sooou muuuito maaais que iiissooo! O Espectro, Senhor de todo o seu mêeeedooo!
- Está enganado. Você não está morto nem é só ossos!

(Por continuar) 

Link para o Episódio 11 corrigido de Antes daquela fria manhã de outono

Link para o Episódio 11  corrigido de Antes daquela fria manhã de outono:
http://sensibilidadedeescrever.blogspot.com/2011_03_30_archive.html
Ah, sim, já deixo avisado:este episódio é para quem tem estõmago  e coração fortes,pois mostra em detalhes como foi o acidente de avião de Nami, e mostra também como foi a morte dela, em riqueza de detalhes, como se fosse um filme em cãmra lenta .

Abraços a todos,
Cristiano Camargo 

Errata

Oi, gente!
Olha, quero me desculpar pela confusão que fiz dia 30 agora  na hora de postar o episódio 11 da minissérie Antes daquela fria manhã de Outono:eu postei com o título de episódio 11, mas o conteúdo que saiu foi do episódio 12, que também já estava pronto.Acabei de corrigir o erro, então, quem quiser ficar por dentro da minissérie , por favor vá no link do dia 28 de março de 2011, no lado esquerdo da tela, e leiam o verdadeiro episódio 11.O episódio 12 será re-publicado no dia 2 de Abril, depois de amanhã, sem falta.
Mais uma vez peço reinteradas desculpas a vocês!
Abraços a todos,


Cristiano Camargo

Ainda sobre o aniversário

Caros(as) amigos(as) e leitores(as):
Como amanhã é meu aniversário, e portanto um dia especial, já vos deixo alertados desde agora que amanhã não ião ser postados episódios da novelinha O Espelho da Verdade -Volume 2, nem da minissérie Antes daquela fria manhã de Outono, nem também o capítulo da Série Especial Consciência de Viver,apenas serão postados o Episódio Especial de aniversário da saga Naquela Fria manhã de Outono e a ilustração especial de aniversário.Mas a partir de depois de amanhã,dia 2 de Abril, tudo volta ao normal, com os episódios e capítulos da novelinha, da minissérie e da série especial, como sempre.
Ah, sim, dia 3 de abril postarei uma poesia em homenagem ao aniverário de minha irmã Maria Júlia, que, como vêem, faz aniversário apenas dois dias depois de mim. 

Abraços a todos!

Cristiano Camargo!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Minissérie:Antes daquela fria manhã de Outono-Episódio 11



Episódio 11:

Voltando um pouco no tempo, Nami se sentou na poltrona que ficava na janela, bem acima da asa esquerda.Depois do avião taxiar, quando ele acelerou para a decolagem, ela notou que o barulho dos motores estava meio estranho.Já na decolagem, os passageiros sentiram um leve cheiro de queimado.Mas o avião chegou na sua altitude de cruzeiro, o cheiro passou, o barulho dos motores pareceu normal, e o aviso de que já se podia tirar o cinto de segurança se acendeu.
Um  frugal café da manhã foi servido, e Nami estava apreciando-o quando o avião sofreu um solavanco repentino, e o alarme para por os cintos de segurança foi acionado.Tods acharam se tratar de uma turbulência, mas então, uma vibração intensa tomou conta do avião inteiro, com se ele estivesse num liquidificador.Parecia que ele iria se desmontar peça por peça.E ia mesmo, pois foi com horror que Nami viu o motor se desprender  da asa e cair!
A trepidação virou um chocoalhar violento e rachaduras apareceram pela fuselagem, e um barulho surdo de revestimentos internos da cabine se desprendendo,bagageiros caindo nas cabeças dos passageiros, máscaras de oxigênio também caindo, e os passageiros, Nami, inclusive, entraram no mais absoluto pânico.
Ela podia ver o avião se contorcer, o horrível barulho de metal se rasgando e  rebites saltando para fora,e a aeronave mais parecia feita de borracha flexível.
Ao olhar para a janela ,Nami e outros passageirso viram a asa esquerda se desprendendo do avião, e um barulho muito mais alto e assustador do que um trovão foi ouvido, e a cabine se rasgou, apenas dois assentos à frente de Nami.
Ela viu, horrorizada, a outra metade do avião se desprender da fuselagem e cair com todo mundo dentro, despencando no abismo de dez kilômetors de altura.
Por alguns breve segundos, a parte em que Nami estava ainda flutuou,depois emborcou.O vento estava infernal, parecia que os cabelos dela iam ser arrancados!
A parte traseira da fuselagem então despencou para o chão numa velocidade assustadora.
Nami estava absolutamente terrificada:seus olhos estavam arregalados e inchados, seu coração taquicárdico, e em sua mente, apesar do pavor da face da morte,a imagem que lhe veio foi de Maki sorrindo para ela.Seu desespêro se tornou maior, mas seus cabelos foram arrancados, assim como o couro cabeludo,os olhos saltaram para fora das órbitas e explodiram, e o ar entrando nos pulmões à uma velocidade quase supersônica, explodiu seus pulmões, fazendo a mesma coisa com o coração, e logo a cabeça era arrancada, e o corpo despedaçado,flutuou leve como uma folha seca antes de cair.O pedaço final do avião começou a rodopiar em parafuso e ao chegar ao chão já tinha se fragmentado em grandes pedaços e milhares de pequenos.Uma chuva de pedaços de corpos e do avião tomou conta do solo.De fato, o que dizia a reportagem era verdadeiro:ninguém conseguira sobreviver.Nem mesmo Nami.
Seu corpo antes vivo jazia inerte, despedaçado em centenas de fragmentos espalhados e misturados como s de outros corpos.Nem mesmo seu crânio permanecera intacto, liberando pedaços de cérebro para o ar.
Naquele dia, próximo a Nara, chovera sangue.E cadáveres também.


(Por continuar)



Série Especial: Consciência de Viver-Capítulo 6

Capítulo 6


Ele estremeceu. Sua cabeça rodava furiosamente e não percebeu que caíra ao chão frio e imundo, levantando uma nuvem de poeira negra e gordurosa. Mas naquele ambiente tão insuportavelmente tépido,a "frescura" daquele piso lhe era agradável e reconfortante. Até ele abrir os olhos e olhar para cima.
 Lá estava o esqueleto de cavalo outra vez. Ele estava absolutamente paralisado em pânico. E o monstro sorria do modo sinistro e infame como só as caveiras o fazem. Quem sabe por isso são tão assustadoras?
Mas o monstro estava calmo. Virou-se de costas e caminhou tranqüilamente pela casa. Desta vez, porém, seus passos eram silenciosos, e Ele não ouviu mais nada. Que crueldade! Agora Ele não poderia mais andar sossegado pelos corredores e seria obrigado a descobrir onde o Espectro estava. Poderia estar escondido em qualquer lugar. E assustá-lo terrivelmente. Pior, o esqueleto não dependia mais do livro para aparecer e podia dar sinal de vida ou desaparecer quando muito bem o entendesse. Ele estava nas mãos dele.
O tal fantasma passou a dominá-lo completamente e podia fazer dele o que quisesse ao seu bel prazer.
Prazer! Um tenebroso prazer parecia ser o que sentia, o verdadeiro significado daquele sorriso ossudo e maligno do Espectro. Sadismo sempre foi uma característica intrínseca de quem é realmente perverso. O mal que exprime sua crueldade de uma maneira simples e aterradora, o prolongamento da dor, mas também com a angústia muito mais profunda da expectativa mais longa, aquela que pode acontecer a qualquer momento e não acontece. O mal sugerido, escondido, o que não aparece – este é o que mais nos assusta e o que dá um prazer sôfrego e estimulante a quem nos infere sofrimento.
E Ele se exasperava, chorando a soluços. Teria de enfrentar seu algoz... mas, e coragem? E coragem para isso? Como não notar que, se estivermos sós no escuro, o medo que nos apavora aumenta geometricamente quando temos consciência de que ele esta aí, mas não o detectamos a cada ligeiro ruído que ouvimos? Sim, porque a cada detalhe mais ínfimo esta imaginação dominante aumentará mais e mais o Monstro que tememos, e quanto mais nos amedrontamos, mais ele aumenta!
E era exatamente o que acontecia com Ele. Pior, ele tinha um limiar muito alto, muito mais do que o normal de suportar o terror. Ninguém se assustava tanto e tão bem quanto Ele!
E Ele estava ali no chão da cozinha, aderente como cola. Passou horas assim. E o Espectro, para ele, parecia não parar mais de aumentar de tamanho em sua imaginação.
Foi então que o esqueleto colocou sua caveira para dentro da cozinha, como quem pergunta se sua vítima não vem. E lá adentrou.
Ele notou, então, que o tamanho real, natural do Espectro era muito mais tétrico do que o imaginara. Maior parecia mais distante. Novamente o cavalo empinado saiu pela casa. Ele estava deitado em posição fetal, seus olhos injetados mostravam um olhar próximo ao do colapso cerebral.
Não conseguia tomar decisões. Sua confusão mental era tamanha que Ele se debatia sem conseguir coordenar pensamentos lógicos. Sua enxaqueca tomava proporções alarmantes, e seu corpo puído não conseguia se mexer, tal a sensação de peso; seu crânio parecia pesar uma tonelada!
No entanto, o aconchego da poeira gordurosa insistia em cobri-lo como um cobertor, e a sensação de conforto aos poucos foi aumentando, e acabou dormindo.
Quando acordou, tinha se esquecido do Monstro. Esfomeado, encontrou no velho armário um grande pote de vidro fosco contendo um tipo de doce que, de tão estragado, estava absolutamente irreconhecível. Mas Ele parecia ter estômago de aço e, para variar, adorou o tal do doce. E dele se serviu à vontade. Saciada a fome, Ele voltou ao seu quarto. Deitou-se, mas não conseguiu mais dormir. Pela escuridão adivinhou que a noite finalmente tinha chegado. Foi aí que se lembrou do quanto odiava a insônia. Lembranças de um sem número de noites tenebrosamente mal dormidas lhe percorriam a cabeça. E novamente a insegurança lhe bateu n'alma.
Seus ouvidos estavam apurados. Lá fora alguma coisa estava acontecendo: Ping, ping, ping...
Ele sabia bem o que era esse barulhinho. Principalmente quando acelerava: ping, ping, ping, ping, ping...
Chuva. Oh, não,de novo não!
(Por continuar)

Sobre o meu aniversário!

Bom dia, caros(as) amigos(as) e leitores(as):

Depois de amanhã, dia Primeiro de Abril, será o meu aniversário, em que completarei 48 anos de vida!
Por isto mesmo, estou preparando para este dia especial, algumas postagens especiais:Uma ilustração especial, que estou desenhando no programa Corel Draw, no computador;e um Episódio Especial de Naquela fria Manhã de Outono(não confundir com aminissérie Antes Daquela fria Manhã de Outono, cuja estória se passa bem antes), e este episódio, um só, irá se chamar:Naquela Fria Manhã de Outono:Especial de Aniversário!
Aguardem então por estas novidades!
Abraços,
Cristiano Camargo!

terça-feira, 29 de março de 2011

O Espelho da Verdade Volume 2-Episódio 130




Episódio 130



-Está tão frio...eu não consigo dormir!
Disse Nanase.
-Nem eu !Não dá para improvisar uma fogueira?
-Posso dar um jeito, Nanami-san.Esperem um pouco.
Narumeshi se levantou, foi até uma árvore próxima e com os raios das mãos, cortou vários galhos e os juntou pertou do futon de viagem.Com outros raios, acendeu o fogo.
-Está melhor assim, garotas?
-Um pouco de privacidade não nos faria mal!
Disse Nanami,piscando um olho.
-Está bem, está bem!
Narumeshi jogou várias bolas de energia ao  seu redor, fazendo um círculo quase completo de muros de terra em volta da fogueira e do futon, com uns bons dois metros de altura.
Então, voltou  a se deitar.
Agora sim o ambiente estava quentinho, reconfortante, pois já não se percebiam mais os ventos gelados das montanhas, e o calor da fogueira, contido pelos muros e não mais dissipando-se no ambiente, tinha muito mais eficiência.
Mas se ele pensou que conseguiria dormir, estava enganado.Quando entrou debaixo das cobertas, notou que não apenas as gêmeas estava agarradinhas nele como antes-elas tinham tirado todas as roupas delas, e estavam nuazinhas em pêlo.
-Ei, o que é isto?Fi...
-Hum,hum!Agora você é o Naru-kun, e nós duas somos suas amantes!
Disse Nanase, retirando a coberta.
-Mas, mas...
Narumeshi nem teve tempo de falar mais nada:
-Atacar! Disseram as duas em uníssono e enquanto uma o beijou na boca,a outra já começava a fazer amor com ele.E as duas agitaram a alcova com toda a depravação possível e imaginável,forçando Narumeshi ao sexo com toda a lascívia que uma sedução feminina pode conter.Elas abusaram dele até o sol raiar, e ainda ficaram desapontadas, pois pela vontade delas, aquilo continuaria por dias a fio.

Já lá para trás na estrada:

-Eu vou tentar te ajudar, Yuki-san, mas não te garanto nada!
-Obrigada, Aika-san!
Aika colocou as duas mãos na cabeça da mulher-lobo e se concentrou, pedindo para que os feitiços fossem desfeitos.Sua aura se expandiu, e começou a girar em torvelinho, criando uma parede mágica giratória em volta de Yuki.
Foi quando Aika viu na mente de Yuki uma grande e ameaçadora mancha negra,e ela se assustou.
Imediatamente as paredes mágicas começaram a soltar raios e girar furiosamente, e eles atingiram Aika, que ficou presa à mulher loba, se ora ficava como loba, hora como humana e hora como mulher-loba,as trasformações se sucedendo cada vez mais rápido, e Aika gritava de dor e não conseguia se soltar e a coisa ficou totalmente descontrolada.
-Minoko, pelo amor dos Deuses, faça alguma coisa, se continuar assim, elas irão morrer!
-Eu vou tentar, Kareni, vou fazer o possível !Calma!
Minoko soltou uma bola de energia ,que atingiu os raios que ligavam Aika à Yuki.
A explosão decorrente separou as duas, que foram arremessadas violentamente cada uma para um lado.
Aika caiu desacordada no chão, toda chamuscada,mas sem gravidade.Porém, a maior parte da energia tinha ido para Yuki, que continuou a se contorcer horrívelmente,em espasmos e convulsões que davam a impressão de um violento ataque epiléptico.
A eletricidade intensa se transformou em chamas violentíssimas, que rápidamente consumiram o corpo da mulher -loba.Em menos de um minuto tudo o que sobrara dela foi um esqueleto humano todo queimado!
Minoko e Kareni correram para Aika, e ela acordou.
-Yuki-san !Ela gritou e foi correndo tentar socorrê-la.
Mas quando a fumaça se dissipou,e ela viu o esqueleto horrível em posição de agonia,Aika entrou em estado de choque!
Ela ficou paralisada, com os olhos lacrimejando muito, olhos e boca arregalados, sem conseguir dizer nada.Mais parecia uma estátua, e ela não respondia a estímulos, embora o coração continuasse funcionando e a respiração estivesse normal.
Toda a trupe ficou chocada, e todas a abraçaram, mas não adiantava,Aika continuava parada.
Kareni se desesperou e seu olhar suplicante para que Minoko fizesse alguma coisa foi de cortar o coração.Sem outra saída, ela teve de intervir.
Mas um novo choque a arrebatou, assim como a todo o resto da trupe:
Ayako,curiosa, foi até o esqueleto, tocou no crânio e viu-se a alma de Yuki saindo pelo lugar que seria antes a boca dela.
A menina-demônio pegou a alma com os dedos e começou, bem devagarzinho, a devorar aquela alma que gritava e pedia por socorro.
Quando começou a comer, pelos pés, asas negras saíram de suas costas e se abriram, revelando a natureza bestial da menina.
Rei viu o que acontecia, e gritou:
-Filha, não ! Não coma ela ! Nãaao!
Mas era tarde.
Ayako simplesmente engoliu de vez a alma, para depois perguntar para Rei:
-Porque, mamãe?Porque não deveria comer ela?
Todas estavam consternadas.Mas Minoko tentou superar isto,e tentou todas as suas técnicas de cura que sabia e mais as que inventou na hora.E nada!
Ayako deixou os braços de Rei, que de tão chocada não conseguira falar nada,e dirigiu-se para Aika.Tocou com o dedo indicador no coração dela.
E a menina saiu do estado de choque instantãneamente !
Todas se perguntavam: como ela conseguira?
Ninguém conseguia uma resposta.
Kareni abraçou sua filha,chorando, mas Ayako disse para ela:
-Eu não entendi porque que a mamãe não quis que eu comesse a alma dela, então eu comi!
Aika explodiu em um choro convulso.Depois da tristeza, a revolta: queria matar Ayaka, mas Rei  lhe opôs feroz resistência.
Sem coragem de machucar Rei, Aika caiu ajoelhada no chão chorando, sentindo-se culpada por ter matado Yuka.
Minoko pediu à Kurumi, Fuu e Chitose,para que enterrassem a mulher-loba.
Kareni teve muito trabalho para consolar a filha, que demorou a se recompor.
Só então seguiram viagem, em clima deprimido.
Quando a noite finalmente chegou, todos foram dormir, mas só Ayako conseguia ter o sono dos justos.Todos os demais integrantes da trupe tiveram pesadelos a noite toda, nos cochilos que conseguiram ter, acordando sobressaltados.Mas dormir de verdade, pesadamente e a noite toda, só a menina-demônio mesmo, a qual achava que não tinha feito nada de mais.

Agora os dois grupos estavam chegando a Matsumoto.O que encontrarão lá?
Será que finalmente irão se encontrar?
O que esperava por eles lá?

Respostas no próximo episódio, não percam !

(Por continuar)

Série Especial: Consciência de Viver-Capítulo 5




Capítulo 5




Viu, então, uma ilustração. Seus cabelos se arrepiaram, e Ele teve uma crise de pânico. Começou a soluçar e chorar escandalosamente.
O que ele viu?
Simplesmente um homem que tentava domar um cavalo empinado.
O homem estava em pé no chão, e o cavalo, de boca aberta, empinado em uma posição pouco natural, quase em posição vertical. Um detalhe: na verdade, eram os esqueletos de um ser humano e de um eqüino. E o cavalo, de pé, ficava tão maior que o homem que parecia ser muito mais poderoso do que ele.
Era só isso! Mas, para Ele, a visão era outra. As órbitas do eqüino brilhavam vermelhas e maleficamente, tal qual um demônio, mas não era a verdade, pois só Ele via essas minúcias que verdadeiramente não existiam. Sua imaginação poderosa o atacava mais uma vez. Ele fechou o livro horrorizado e iniciou sua fuga corredor afora. Mas, em seu delírio, fruto de pura paranóia, começou a ver o cavalo sair do livro como um espírito maligno, gasosamente, e se materializar novamente em tamanho natural, relinchando, bufando e perseguindo-o com fúria, correndo apenas nas patas traseiras; suas órbitas brilhando, seu sorriso apavorante e seus ossos cruamente expostos, brancos como leite.
 Não! Não havia como escapar dele. O terror que o impulsionava a correr como jamais o fizera em sua vida parecia atrair magneticamente o cavalo atrás de si, mais e mais perto. Quanto mais corria, mais o cavalo se aproximava sadicamente. O tal eqüino parecia ser de uma crueldade tamanha, que Ele mal podia acreditar. O desespero era absoluto, e o peito doía, em acelerada taquicardia. Quase não conseguia respirar!
Acabou desmaiando, caído no chão. Algum tempo depois, ao acordar, procurou pelo esqueleto e nada achou. Voltou à sala e resolveu guardar o livro de volta, pois insistia que, enquanto o livro não estivesse guardado novamente, Ele corria o perigo de o cavalo voltar outra vez.
Temeroso e com milhares de cuidados entrou na sala. Quase voou para cima do livro, guardou-o com tremenda pressa, e saiu da sala mais apressado ainda. Refugiou-se na cozinha, devorando algumas nozes.
Novamente satisfeito, começou a pensar no que fazer.
Mas não conseguia absolutamente concentrar-se em pensamento algum. Nada! Parecia que sua imaginação, sua consciência, sua criatividade e até sua inteligência o tinham abandonado. Veio-lhe uma profunda angústia.. Todos tinham ido embora. Ele estava sozinho.
Alguma coisa lhe veio então à mente: o cavalo foi o único que não o abandonara. Mas era seu demônio! Ele começava a suar frio só de pensar em estar sozinho naquela casa imensa, sozinho com aquele maldito cavalo! Foi então que se lembrou de que havia um poema na página ao lado da foto do eqüino tão temido:

"Ai dos Mortos
Que não sabem
Sua condição,
À larga vivem
Em comiseração.

São miseráveis putrefatos
Sem qualquer argüição,
Vagam Sós
Pelo temor
De tanta imaginação!

De que se alimentam
Sem satisfação
Sofregamente o veneno
Eles compartilharão.

São inertes e perenes
Como o próprio inferno arderão
Que criaram sussurrantemente
A si mesmo um vilão
Ouviram o trovejar dos cascos
Em ebulição,
E a fera ungulada
Em que cavalgarão.

Indomáveis criaturas
Que os carregarão
Ao desértico sepulcro
Agonizando sem perdão.

Sob o domínio do relincho
Cavernoso
De tanta imaginação
A tortura angustiante
Em que ferverão.

Ilimitada e infinita
Em que perecerão
Galope maldito do Esqueleto
Senhor superior de todo medo
O cavalo terrífico de órbitas de fogo
Para o qual se danarão.

Escravos do horror
Para sempre serão
Eis que o tempo, indomável
como a fera,
lhes será tumba e prisão!"

(Por continuar) 

segunda-feira, 28 de março de 2011

Minissérie: Antes daquela fria manhã deOutono-Episódio 10



Episódio 10

Um pouco mais calma, Maki deixou a irmã respirar finalmente.
Ela já estava até acostumada,todas as vezes que ela viajava, Maki a recebia desta maneira.
Maki correu para a cozinha, pegou tudo o que achou de comida congelada no freezer e fêz o melhor almoço para a irmã, possível.Mas mal Nami chegara e almoçara, já tinha de voltar ao trabalho, para a tristeza da irmã mais nova.
O consolo veio na hora da nova despedida:
-Maki-nee-chan, eu vou ter uma folga depois de amanhã, e vou te levar ao parque de diversões,para compensar o tempo que fiquei fora,tudo bem?
-Ebaaaaaaaaaaaaaaa!Foi a alegre resposta da menina,abrindo um largo sorriso.Agora ela estava super ansiosa pelo programa com Nami, e já fazia mil planos, enquanto sua irmã mais velha saía com o carro da garagem.
De fato,dois dias depois lá estavam elas indo ao Parque de Diversões, onde foram em todos os brinquedos,e uma Maki entusiasmada, feliz, cheia de vida, e com novos bichinhos de pelúcia para sua coleção,enchia o coração de Nami de alegria, e fazia todas as vontades da menina, mimando-a com atenção, amor e carinho.Naquele dia, tiraram uma bela foto juntas.A última em que apareceriam juntas nas vidas delas.Uma segunda foto, desta vez só com Nami , foi tirada por Maki, e atrás da foto Nami escreveu:
"Para a minha amada  e querida irmãzinha Maki,com muito amor e carinho, de quem nunca a deixará só, e para lembrar que este imenso amor nos une para sempre,aconteça o que acontecer,sua irmã estará sempre com você para te amar e proteger
Nami"
Maki pôde fazer um porta retratos na loja mesmo,para cada foto,e seus olhinhos meigos miraram Nami com devoção:lágrimas pendiam deles, pois ela ficou  intensamente comovida com o que leu, sobretudo com o valor do significado do gesto de amor da irmã.
Ela carregou os retratos junto ao peito até chegar em casa, já no escuro da noite.
Mais alguns dias se passaram, e Nami recebeu  pela manhã,um novo telefonema de Tetsuo, convidando-a para mais um fim de semana em Okinawa.
Nami concordou, e logo ligou para a compania aérea para reservar a passagem para o dia seguinte.Num papel ela anotou os dados da passagem:All Nippon Airways,vôo 8713 para Okinawa.
Mas achou que o papel estava pouco legível, e anotou em outro, que guardou na bolsa.
Quando Nami disse que teria de viajar outra vez, foi a maior choradeira:Maki não queria que ela viajasse, dizendo que a irmã podia passar ao menos um fim de semana com ela.
Só sossegou quando Nami disse:
-Minha adoradinha,eu te prometo que no próximo fim de semana depois deste nós iremos passar o fim de semana juntas e te levo para o Zoológico,combinado,onee-chan?
Como Nami sempre cumpria suas promessas religiosamente, Nami acabou concordando, e parou de chorar.
Mas ainda naquele dia,Maki contou-lhe que suas colegas a tinham visitado.
Nami tentou esconder seus sentimentos, mas ficou furiosa!
Ela foi ao colégio, dirigiu-se à
sala do Diretor, e mandou chamar as garotas que tinham ido visitar Maki.Pediu uma entrevista reservada com elas, e o Diretor saiu da sala.
-Como se atrevem a invadir minha casa e ficarem importunando a minhã irmã?
Disse Nami, com expressão severa e tom de voz agressivo.
-Mas Nami-sempai, nós só fizemos uma visitinha social, levamos bolos, doces e chás para ela, afinal ela perdeu uma amiga muito querida!
Kotone tomou para si a responsabilidade de responder por todas.
-Vocês estão achando que nós somos pobres e precisamos da piedade e da comida de vocês?
O olhar de Nami era assustador e feroz ao falar.
-Não, não, nada disto,Nami-sempai,por favor, só quisemos ajudar!
-Boas intenções os demônios também tem!Nunca mais, nunca mais se aproximem de Maki, entenderam?E nunca mais venham para a nossa casa !
Nami estava quase gritando ao falar, e as meninas se encolheram todas.Saíram todas correndo, assustadas e chorando, sem entender nada.
Ao ver delas, elas nada tinham feito de mais, nem de errado.
Ao chegar em casa no fim do dia Nami encontrou Maki  assistindo uma novela na televisão e comendo pipocas de microondas,algo que ela adorava.
-Onee-chan, tanta pipoca vai te fazer engordar, e depois, daqui há pouco vou pedir um jantar,que tal comida chinesa?Hoje não estou a fim de cozinhar.
-Ebaaaaa! Bolinho de porco agridoce!Bolinho de porco agridoce !E bastante arroz com chop-suey!
Disse Maki,que também adorava comida chinesa.
Elas jantaram assim que a comida chegou.Algo curioso é que Nami, quando em casa, nunca deixava Maki atender a campainha ou o telefone.E sempre que Maki estava ao telefone com alguém, Nami escutava pela extensão.
De fato Nami gostava de controlar a vida de Maki completamente, mas esta não se dava conta.
Depois do jantar, Maki foi para o video-game, e lá ficou até tarde da noite.
Era uma da madrugada quando foi direto para a cama da irmã, dormir abraçadinha com Nami.
Quando foi seis da manhã, Nami acordou, fêz e tomou o café da manhã, se arrumou, fez sua mala , deu um beijo na testa de Maki, que continuava dormindo.
Maki só acordou com o barulho do motor do táxi de Nami dando a partida, e de camisola mesmo saiu correndo para se despedir da irmã que ia  viajar.Nem notou que Nami esquecera a televisão ligada no canal de notícias vinte e quatro horas JNN.
Quando Maki chegou na porta da entrada, o táxi já ia longe, e ela mal conseguiu vê-lo.Era a primeira vez que não conseguira se despedir de Nami.
Voltou para casa frustrada e deprimida, toda chorosa,e deitou-se no sofá, e assim ficou por mais de uma hora,quando a fome fez seu estõmago roncar alto.Quando se levantou, viu e escutou a notícia na TV:
"-Um Boeing 737-700 da All Nippon Airways, saído de Kyoto com destino a Naha, Okinawa, acaba de cair,logo depois de sobrevoar a cidade de Nara.O avião parece ter se desintegrado em pleno ar, e não há registro de sobreviventes.Todos os noventa e seis passageros infelizmente faleceram, uma grande tragédia!.Para os familiares dos mortos, informamos que se trata do vôo 8713,repetindo, 8713!"
Maki estava paralisada de terror.Não conseguia acreditar, e achou que aquilo só podia ser um pesadêlo.Tentou ligar no celular de Nami e nada de resposta.
Procurou desesperadamente o papel em que Nami tinha anotado os  dados do vôo dela, e a realidade era cruel:não havia dúvidas-o vôo era o 8713 da All Nippon Airways, Kyoto-Naha!


(Por continuar)

Série Especial:Consciência de Viver-Capítulo 4

Capítulo 4



Mas ele ainda não estava a fim de dormir. Voltou para a cozinha e comeu mais um biscoito esverdeado, tomou um gole de água e começou a imaginar as conversas dos soldados de defesa de sua "cidade". Estava muito entusiasmado, curioso para saber que novas aventuras promoveria com seus personagens. Foi quando viu num canto um velho baralho amarfanhado e tristonho. E inventou novos personagens, desta feita a "Corte do Rei".
 Ele adorava experimentar. Criar novos personagens, projetar suas estruturas, dar-lhes um comportamento, construí-los detalhadamente, até formá-los e lhes dar vida. Planejar lhe dava prazer, moldar estórias fantásticas para eles também.
 Não precisava de companhia. Já tinha a si mesmo como companheiro de solidão. Isso lhe bastava, afinal ele já havia perdido a conta de quantos personagens  criara, e perdia-se no tempo a lembrança de seu último balanço.
Agora, com as cartas do baralho, imaginava que um reino era disputado por quatro reis em seus castelos com suas rainhas, sendo príncipes os valetes. As demais cartas, com exceção do Ás e do Coringa, seriam soldados. Ele misturava as cartas de cada naipe em separado e ao acaso, e confrontava duas cartas escolhidas a esmo: a que tivesse o maior número, vencia; a de menor número era eliminada.
 Dois naipes, ou seja, dois reinos se confrontavam, e o vencedor era desafiado pelo terceiro naipe, até que o último naipe que vencesse fosse proclamado por Ele como detentor do reino disputado. E as horas se passavam. Quando finalmente o Rei de Espadas se viu vencedor da contenda, Ele já estava com tamanho sono que quis finalmente se deitar.
De volta a seu quarto, Ele dormiu. Mas no meio da madrugada acordou sobressaltado.
Estava ocorrendo uma tremenda tempestade. Os trovões trombeteavam, a ventania chicoteava as janelas apodrecidas, os raios e relâmpagos riscavam a escuridão do quarto com um rastilho de luz que teimava em aparecer pelas frestas inúmeras daquela casa, assustadoramente iluminando com seus clarões aquele ambiente atemporal e agonizante.
Ele detestava as tempestades. Não só porque as temia muito, mas também porque quebravam o isolamento do mundo, trazendo-lhe de volta a angústia de confrontar-se com si mesmo e com a vergonha da covardia em não querer sair daquela casa e enfrentar o mundo, com o acomodamento injurioso e maléfico em refugiar-se em seu mundo confortável, o qual dominava e ao qual era cruelmente subjugado com a mesma ferocidade com que julgava dominar aquela residência e seu próprio mundo interior. Quando das tempestades, o mundo e a realidade batiam à sua porta como o mais apavorante dos monstros. Seus medos afloravam, a sua insegurança e toda a sua covardia, além de sua gigantesca preguiça, deixavam cair suas máscaras. Onde conseguir abrigo, se alguém não consegue sequer refugiar-se em si mesmo?
Habitante permanente da penumbra e das sombras, como uma barata que procura se esconder na segurança dos cantos escuros, assim era Ele.
Não estava acostumado a ver sua casa, pois na maior parte do tempo as trevas imperavam pela perenidade.
A visão da casa toda iluminada pelos fenômenos naturais lhe era arrepiante. Caía-lhe pesadamente sobre a cabeça a idéia de o quanto aquela casa era apavorante.
Agora é que não conseguiria mais dormir mesmo. Ficaria insone, estirado naquela cama lúgubre pelo resto da noite. Estava irado com a chuva e desfiava todo um rosário cansativo de impropérios. Mas, de pronto, a tempestade recrudescia a sua fúria e ele se calava com os olhos saltados, todo encolhido em posição fetal.
 Sim, era realmente duro para Ele sentir raiva e não poder expressá-la, diante de uma fúria que bem poderia ser perfeitamente maior do que a sua e que temia enfrentar. Isso lhe calava fundo e o frustrava imensamente. Quanto ele sofria em ter de engolir toda a impotência! Essa sua incapacidade lhe soava como incompetência de tal maneira perversa, surrando tanto a sua mente, aumentando suas dúvidas tão profundamente, que chegava a queimar em suas chagas! Parecia sentir os raios como a lhe penetrar as carnes e a desgastar seu âmago, fora disso impenetrável. Ele padecia a cada ribombar dos trovões, como um terrível golpe a derrubá-lo e, assim, realmente decaía a olhos vistos.
Ele estava transtornado e ansiava desesperadamente para a chuva parar e ter algum alívio em sua mente torturada. Tentava fugir para o Reino das Cartas, mas era inútil. Não conseguia se concentrar em mais nada. E chorou desabaladamente a falta de alguma entidade protetora que o protegesse da tempestade e o confortasse. Só conseguia contemplar o vazio, a ausência, o que só aumentava a sua dor.
 Pior ainda era quando a tempestade durava semanas a fio: era quando todo o seu desespero aumentava acima de qualquer limite.
Mas não foi o caso. Ao amanhecer a chuva parou, e ele acompanhou com os ouvidos até o último pingo cair.
Quase indescritível foi a sensação de alívio que Ele sentiu. E caiu no sono tão profundamente como poucas vezes tinha acontecido em sua vida. Não sabia quantas horas tinha dormido quando acordou.
Parecia ter ficado dias dormindo, e suas costas doíam.
Perambulou pela casa toda desalentadamente. A sensação dominante era do mais puro desânimo. Preguiça, tonteira... não sabia direito o que sentia. Mas sabia que não era nada agradável. As pernas não se firmavam, andavam bamboleantes.
Dirigiu-se instintivamente à cozinha. Era a fome que o chamava.
Desta vez, porém, queria alguma coisa diferente daqueles biscoitos amarfanhados e esverdeados que sempre comia. E descobriu velhas nozes em um pote que já havia sido transparente um dia, mas que jazia amarelado, quase marrom, no alto do velho armário, encerrado em um canto escuro que Ele jamais vasculhara antes. O pesado vidro foi aberto. Só que as nozes estavam de tal modo negras, apodrecidas e mofadas que exalavam um horrendo mau cheiro. Mas Ele as comeu com vontade. Apanhou um copo de vidro escurecido e bebeu sofregamente aquela água putrefata marrom-esverdeada.
 Após fartar-se de mais de uma dúzia de nozes e vários copos d'água, decidiu ir a um recanto poucas vezes visitado da casa: a grande sala de estar. Um imenso espaço quase vazio, como era toda aquela residência. Uma velha e comprida estante de madeira, coberta de teias de aranha, abrigava centenas e centenas de livros antiquíssimos, roídos de traças, mofados, repletos de repugnantes fungos multicoloridos, e entre eles o espaço vazio da obra que ficava na cabeceira da cama dele e que só era lida muito de vez em quando. Como este, todos os outros livros não tinham título nem nome do autor, sequer da editora. Muito menos data.
Em um canto, ficava um antigo sofá bastante surrado.
Espessas e pesadas cortinas escuras tampavam as janelas fechadas, e a porta exterior estava trancada e selada tal como tampa de caixão. Uma trava de madeira maciça a ornava, impossibilitando qualquer abertura externa. Ele se sentou no sofá e abriu um dos livros da estante. Começou a folheá-lo longamente.

(Por continuar) 

domingo, 27 de março de 2011

O Espelho da Verdade Volume 2 -Episódio 129




Episódio 129



-Obrigada por me salvar!
Disse a mulher -lobo.
-Quem é você?Por que tinha um ferimento tão sério,e que a transformou em lobo?
Minoko já tratou de bombardear a moça com perguntas.
-Whooa !Calma, uma coisa de cada vez !Meu nome é Yuki, e sou uma Maga.Ninguém me transformou,eu sou uma mestra na arte da transfiguração,posso me transformar no animal que quiser, na pessoa que quiser, homem, mulher,criança, velho, como eu quiser.Quanto ao ferimento, bom, me pegaram de surpresa.
-Mas se você é uma maga tão poderosa, como foi pega de surpresa?Meu nome é Kareni.
-Muito bem, Kareni-san...digamos que me especializei tanto em transfiguração que acabei esquecendo a parte de detecção e controle de ki.
-Huuum, isto ainda não está satisfatório...
-Bom, depois conto mais, mas primeiro estou morrendo de fome, alguém tem comida aí?Disse Yuki.
-Teríamos de caçar..eu acho que tenho um bolinho de arroz no bolso, mas está gelado...
Disse Kogyo.
-Serve!
A mulher -lobo devorou o bolinho com uma rapidez incrível,para depois dizer alegremente:
-Bom, agora podemos sentar e conversar, aí vou contar minha estória para vocês em detalhes!
-Não, sua folgada, estamos viajando, então terá de nos contar em pé mesmo, caminhando.
Disse Minoko, levemente irritada.
-Yuki-san, quando entrei em sua mente, vi uma grande dor.Mas não parecia ser só do ferimento!
A mulher loba olhou nos olhos de Aika, e respondeu para ela:
-É algo muito íntimo.Prefiro não contar, se não se importam.
-Ih, deve ter sido traída..devem ter roubado o namorado dela!
Exclamou Fushiko.
Yuki soltou um rosnado feroz, e os pêlos de sua cauda se eriçaram todos,dizendo depois:
-Não se meta na minha vida e não fale bobagens...
-Ih, ih, está bem, está bem, não está mais aqui quem falou.Acho melhor nós todas nos apresentarmos para ela.Aliás, você  não está com frio, assim pelada?Nem com vergonha?O Juuchi não pára de olhar para você, está taradinho !
-Juuchiiiii
Disseram Aika e Rei juntas, morrendo de raiva.
O garoto corou de vergonha na hora!
E não só ele, pois só agora Yuki reparara na presença do menino, e além de corar, tentou cobrir os seios e a virilha com as mãos e braços, sem muito sucesso.
-Eu vou criar roupas para você, Yuki-san!
E depois de falar, Aika fez um feitiço, e um kimono  de inverno apareceu, e Yuki o vestiu correndo.Deposi que toda a trupe se apresentou para ela, ela então começou a contar a sua estória:
-Como eu já disse, sou uma Maga.Eu nasci na cidade de  Nagoya,e meus pais eram magos.O segredo da trasmutação é a grande especialidade da família, que meus pais e avós me passaram, são segredos seculares.
Mas tinha, em nossa cidade, um clã rival, também de Magos,e há séculos nossos clâs são inimigos.Um dia, eles venceram a guerra, e mataram todo o meu clã.Eu fui a única sobrevivente,  mas eles descobriram meu disfarçe de lobo, e "travaram" meu feitiço com outro, de um modo que posso virar lobo, ou mulher-lobo, mas nunca uma mulher completa.
-Mas você disse que pode se transformar em qualquer animal, e qualquer pessoa...
-Sim, Kareni-san, é verdade, eu posso.Animal, tudo bem, eu consigo mesmo, mas quanto a pessoas, eu também consigo, só que as orelhas e cauda de lobo permanecem sempre.Não tem jeito!
-Então sua habilidade não serve para muita coisa...
-É por isto que estive este tempo todo procurando por vocês, Sete Incríveis!Vejam, o Mago que me fez isto também fez com que minha pele ficasse sempre negra, para que eu ficasse marcada com o estigma dele, e  carregasse para onde eu fosse a vergonha de ter sido derrotada.Ele considerou isto um castigo pior que a morte,por isto poupou minha vida e me expulsou de Nagoya.E eu soube dos incríveis poderes da Aika-san, e queria que me ajudassem a voltar ao normal!
Enquanto isto, bem mais para a frente na estrada:
-Papai, o velho morreu! E agora?
-Ah, Nanase-san, ele iria morrer de qualquer jeito...
-Não senhor, papai! Ele morreu porque você disse que ia matar a neta dele!
-Nanami-san, você é muito jovem ainda para entender certas coisas.Deixe ele para lá.Vamos prosseguir na nossa viagem.
-Não! Ele precisa pelo menos de um enterro digno! Afinal foi sua culpa ele ter morrido! E porque matar a menina, se ela não te fez nada?Só por que as duas famílias são inimigas por gerações a coitada tem de ser morta?
-Nanase-san, quer se acalmar!Eu não vou enterrar meu inimigo!
-Bruto! Reclamou Nanase.
-Insensível! Disse a outra gêmea, e ambas ficaram de cara fechada.
-Deixem de ser turronas ! Vamos, vamos embora, é uma ordem!
As duas fizeram um sinal negativo com a cabeça e mostraram a língua para ele.
-Ah, mas será possível?Está bem, está bem, eu enterro o infeliz então!Que droga!
Disse Narumeshi.
Mas ele não estava com paciência para cavar buracos, então ,resolveu apelar para a magia e criou em suas mãos uma bola de energia e a jogou no chão, criando um grande buraco como resultado da explosão.
As duas gêmeas ficaram estupefatas:
-Pai, o senhor é mago?
-Sim,filhas, eu tenho um pouco de poder mágico,era o poder da Minoko, mas a maior parte da magia  e do conhecimento mágico ficaram com ela, que é bem mais poderosa que eu.
-Ooooh! Que incrível !O que mais sabe fazer de magia?
Ah, não muito...fazer bolas de energia, soltar raios pelas mãos,criar um escudo protetor,agora, eu não sei fazer roupas aparecerem do nada, nem invocar monstros, ou teletransportar, como ela.
-Puxa, esta Minoko é mesmo poderosa!
-Nem tanto, Nanami-san, a Aika, que é da idade de vocês, é muito mais !

 Já mais à frente na estrada...

Depois do idoso devidamente enterrado,Narumeshi e as gêmeas prosseguiram enfim a viagem.
No fim do dia, levantaram novo acampamento, para dormir sob a luz das estrêlas,pois não encontraram qualquer abrigo.
Porém a noite estava gelada, e as gêmeas correram a dormir abraçadinhas com Narumeshi.


Quem foi que castigou Yuki?
Será que Aika conseguirá ajudá-la?
Ayako estava para revelar seus poderes e sua natureza verdadeira-quais seriam?
Respostas, no próximo episódio, não percam !

(Por continuar)