Foto ilustrativa

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Minha versao da entrevista do vencedor do Premio Leya 2009

Quando venceu o Premio literário Leya,no ano passado, com o romance Ò Olho de Herzog", o escritor moçambicano Joao Paulo Borges Coelho deu uma entrevista ao site Ionline.Como estou concorrendo ao Premio Leya este ano, decidi fazer a minha versao desta entrevista, imaginando o que hipotéticamente eu responderia no lugar dele, se eu  por acaso ganhasse este importantíssimo premio literário.mas mantendo também as respostas dele para os(as) leitores(as) compararem e criticarem, e também, caso queiram, deem suas próprias respostas.Quem quiser pode criticar tanto a resposta de um como do outro.

Que mudou na sua vida com a atribuição do prémio?

Para já não mudou grande coisa. Traz mais visibilidade ao meu trabalho. Houve uma sacudidela esta semana, com as entrevistas e os lançamentos. Tenho esperança que depois regresse à normalidade das aulas e da escrita.

Minha resposta:O que acho que mudou,além da realizaçao dos meus sonhos profissionais e materiais,foi a satisfaçao e o orgulho de ter o sentimento de realizaçao profissional e também da grande alegria e satisfaçao com a visibilidade e fama alcançadas.

Há uma diferença entre o que escrevia antes de publicar e aquilo que escreve agora?

Não. Nunca sinto pressão. Eventualmente há contextos em que editores pedem material aos escritores. Isso nunca aconteceu comigo. Tenho o meu ritmo e quando as coisas estão prontas contacto a editora.
Minha resposta:Nao.Minhas obras tem no meu estilo minha marca registrada,e o modo de escrever e,meu padrao de qualidade e minhas inspiraçoes só tendem a evoluir com o tempo, mudar nunca, ou nao seriam obras by Cristiano Camargo.E o meu ritmo deve ser respeitado, mas procurarei conciliar isto com os prazos acordados em contrato.Acho que nao terei problemas, pois escrevo depressa, sempre fui assim.

Isso pode estar em vias de se alterar.

Sim, mas eu não sei escrever depressa. Quando muito o editor pode perguntar se tenho algum material, o que estou a fazer, mas de resto, o ritmo é meu.
Minha resposta:Sinceramente, nao acredito.E além do mais tenho muitos trabalhos ainda inéditos e prontos para publicaçao, por muito tempo, a editora poderá simplesmente escolher dentre eles os que quiser publicar.

Para alguém que publica livros há anos, não sente que há alguma injustiça no facto de ser necessário um prémio para dar a conhecer a sua obra?

Percebo aquilo que diz, mas tenho noção de como funcionam os mercados e, portanto, seria um gasto desnecessário de energia estar a revoltar-me. Tenho uma concepção muito egoísta da prática da escrita. Enquanto trabalho não existe nem o mercado nem o leitor. E como não vivo da escrita, permito-me olhar com uma certa distância para esse tipo de problemas. Além disso, escrevo em Moçambique, onde não há mercado do livro.
Minha resposta:Nao diria bem uma injustiça, mesmo porque considero um concurso um bom meio para o público conhecer minha obra.Agora, básicamente, escrevo para mim, nao pensando no mercado desde o início-primeiro a inspiraçao, depois de escrita a obra vem a questao da análise de se o público se identifica com a obra ou nao.Na verdade eu diria que, se a obra ganha premios, ou se vende bem, é porque esta identificaçao existe, mas esta deve ser espontanea,nao premeditada.É muito difícil uma obra premeditada ter uma grande qualidade literária.Entao a prioridade é escrever por escrever e se deixar levar pela inspiraçao, para só entao saber se ela se identifica com o público.
Nesse caso, os escritores moçambicanos escrevem para quem?
                                          (brasileiros)

Não me ponho essa questão. Escrevo aquilo que me apetece.
Minha resposta:Como disse antes, primeiro a literatura pela própria literatura, literatura pela inspiraçao e qualidade,depois será hora de pensar no público e isto ficará sempre a cargo da Editora e ,no caso dos concursos literários, dos jurados.
Mas o facto de se escrever para um público que não coincide com a sociedade que o escritor representa não pode levar a uma opção pelo exótico?

Já vi escritores africanos dizerem que se é o exótico que vende, então vamos fazer o exótico. Ao fazê-lo pomos em causa a integridade da literatura. A mim desgosta-me este tipo de exótico. O leitor nem se apercebe do grau de manipulação que isso representa. Ao mesmo tempo, remete-nos a uma espécie de gueto. Chega-se à livraria e lá está o cantinho da literatura alienígena, ou dos pretos, ou africana, para quem procura o diferente. Não procuro uma escrita africana.
Minha resposta:E qual o próblema em optar pelo exótico, pelo diferente?Ser diferente, original, é bom!Literatura é ficçao, e ficçao tem que se primar pelo diferente, pelo criativo, sem falar que o público gosta do que é novo e está sempre avido por ler novidades,entao, por que isistir no que o público está sempre lendo?Deixemos de lado a hipocrisia covarde do convencionalismo, do maria-vai-com as-outras, de só escrever o que já se sabe que vende, vamos nos aventurar, ser criativos, diferentes,mesmice nunca leva a qualidade literária, a criatividade sim.Para escrever o que todo mundo escreve nao é necessário talento.


O romancista e o escritor coabitam bem dentro de si?

O que busco na literatura é sair dos parâmetros da História. Não busco complementaridades porque isso seria submeter cada uma das componentes ao arbítrio da outra.
Minha resposta:Sim, sao indissolúveis.
Disse uma vez que o romancista interpreta os factos emocionalmente.

Emocionalmente, intuitivamente, arbitrariamente. Mas a literatura é também um jogo de muita cultura. Nesse sentido, há uma alguma crise da literatura africana, aquela que é mais jovem. Não tem muitas referências e cai numa inocência que dificulta a qualidade e provoca uma benevolência do Norte em relação ao Sul.
Minha resposta:E qual o problema disto?Tem que ser !No meu ponto de vista, a literatura tem de ser apaixonante, tem de primar pela sensibilidade, pela emoçao, pela comoçao, despertar as emoçoes do leitor, para mim esta é a essencia da literatura de qualidade.
Às vezes o olhar do romancista é muito trabalhado.


O segredo está em conseguirmos ser cultos sem transformar a literatura numa prática mecânica que obedeça a escolas. Quando isso acontece, há uma espécie de corrupção da literatura. Eu prefiro correr riscos.
Minha resposta:Novamente, tem que ser , mesmo.Outra atribuiçao da literatura de qualidade deve ser levar o leitor a pensar e desenvolver um olhar crítico por sobre a sociedade.
Significa que não tem influências?

Quando estou a escrever, não penso em influências. Se me perguntar sobre um autor que admiro, digo-lhe que é o Coetzee. Mas não persigo a escrita dele. Gosto de tudo o que ele escreve mas não quero fazer aquela escrita.
Minha resposta:Tenho, claro. Fui muito influenciado por grandes escritores como Monteiro Lobato,Rudyard Kipling e Jack London.
Que esteve na génese do romance?

Foi o diário de Lettow [Lettow-Vorbeck, general alemão, comandante da campanha da África Oriental Alemã, durante a Primeira Guerra Mundial]. E depois houve outros pontos de partida e eu forcei a confluência. Houve até sinais do além. Quando comecei a investigar o caso dos Foster, uma espécie de Bonnie e Clyde sul-africano, sentei-me a fazer zapping e num canal estava a dar um filme sobre a história deles. Um acaso extraordinário. Um sinal.
Minha resposta:Bom, esta é uma resposta por demais complexa, eu diria.Sim, eu diria mesmo!Posso dizer que o intuito inicial foi fazer uma obra que girasse em torno de uma personagem feminina realmente convincente,mas ao mesmo tempo que tivesse uma visao crítica da sociedade, mas fosse se tornando cada vez mais sensível e bela de coraçao e alma.Explorar o mistério da alma feminina em todas as suas facetas,de fato.
Enquanto escreve está aberto a essas sugestões do quotidiano?

Seguramente. Eu não consigo trabalhar com um plano fechado.
Minha resposta:Nao.Minhas obras sao frutos do meu e exclusivamente do meu imaginário e nao acato sugestoes de outras pessoas no teor essencial da obra.Em especial a essencia, eu nao mexo, o resto, se preciso por razoes editoriais, posso pensar, desde que nao tenha de mutilar nem diminuir a qualidade literária da obra.
A sua atitude com a literatura é a de um diletante?


Estou preparado para arcar com esse peso. Não me sentiria bem a traçar um cenário histórico ortodoxo e depois andar à pancada com as personagens para que elas coubessem lá dentro. Se eu passo por verdade aquilo que é ficção, estou a quebrar o contrato entre o escritor, que finge que o que escreve é verdade, e o leitor, que finge que acredita. Há uma quebra unilateral do contrato. É por isso que não gosto da designação de romance histórico.
Minha resposta:Nao.Sempre deixo bem claro que tudo o que escrevo é ficçao, sem compromisso com a realidade, nao engano a ninguém..

Está a trabalhar noutro romance?

Tenho um pequeno romance pronto. Há também uma novela futurista, que escrevi em paralelo com este livro, e estou a partir a pedra inicial de um trabalho de mais fôlego. Mais do que condicionar os trabalhos futuros, gostaria que a visibilidade associada ao prémio ajudasse a divulgação dos livros que já existem.
Minha resposta:Sim, em vários outros.Costumo mesmo trabalhar em várias novas obras ao mesmo tempo, dedicando-me ora a uma, ora a outra, conforme os caprichos da minha inspiraçao.
Já tem destino para os 100 mil euros do prémio?

Não tenho qualquer ideia. É muito e é pouco. Dá para comprar uma casa, talvez. Não me dá segurança para largar tudo e dedicar-me à escrita. Se fosse o Euromilhões, mudava a minha vida. Assim não.
Minha resposta:Sim, comprarei um carro importado,reformarei minha casa,e deixarei uma parte para viver de renda.A partir de quando começarem a chegar os lucros da venda deste novo livro, me dedicarei totalmente a literatura e viverei da literatura como forma de sustento de vida.
É um Euromilhões em termos da exposição mediática?

Isso não me agrada nada.
Minha resposta:Assim me parece,nao?.Gosto desta exposiçao!
Mas o mercado exige cada vez mais essa exposição.

Tenho essa noção. Mas não hei-de ser uma figura pública em permanência. As pessoas têm os futebolistas para se distraírem.
Minha resposta:Ótimo!Melhor ainda, quanto mais fama , melhor!Assim me sentirei eternamente profissionalmente realizado e orgulhoso de mim mesmo.
Há escritores que são estrelas.


Espero que façam bom proveito.
Minha resposta:Está nascendo mais uma, espero que eterna!Tomara !