Foto ilustrativa

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segunda-feira, 28 de março de 2011

Minissérie: Antes daquela fria manhã deOutono-Episódio 10



Episódio 10

Um pouco mais calma, Maki deixou a irmã respirar finalmente.
Ela já estava até acostumada,todas as vezes que ela viajava, Maki a recebia desta maneira.
Maki correu para a cozinha, pegou tudo o que achou de comida congelada no freezer e fêz o melhor almoço para a irmã, possível.Mas mal Nami chegara e almoçara, já tinha de voltar ao trabalho, para a tristeza da irmã mais nova.
O consolo veio na hora da nova despedida:
-Maki-nee-chan, eu vou ter uma folga depois de amanhã, e vou te levar ao parque de diversões,para compensar o tempo que fiquei fora,tudo bem?
-Ebaaaaaaaaaaaaaaa!Foi a alegre resposta da menina,abrindo um largo sorriso.Agora ela estava super ansiosa pelo programa com Nami, e já fazia mil planos, enquanto sua irmã mais velha saía com o carro da garagem.
De fato,dois dias depois lá estavam elas indo ao Parque de Diversões, onde foram em todos os brinquedos,e uma Maki entusiasmada, feliz, cheia de vida, e com novos bichinhos de pelúcia para sua coleção,enchia o coração de Nami de alegria, e fazia todas as vontades da menina, mimando-a com atenção, amor e carinho.Naquele dia, tiraram uma bela foto juntas.A última em que apareceriam juntas nas vidas delas.Uma segunda foto, desta vez só com Nami , foi tirada por Maki, e atrás da foto Nami escreveu:
"Para a minha amada  e querida irmãzinha Maki,com muito amor e carinho, de quem nunca a deixará só, e para lembrar que este imenso amor nos une para sempre,aconteça o que acontecer,sua irmã estará sempre com você para te amar e proteger
Nami"
Maki pôde fazer um porta retratos na loja mesmo,para cada foto,e seus olhinhos meigos miraram Nami com devoção:lágrimas pendiam deles, pois ela ficou  intensamente comovida com o que leu, sobretudo com o valor do significado do gesto de amor da irmã.
Ela carregou os retratos junto ao peito até chegar em casa, já no escuro da noite.
Mais alguns dias se passaram, e Nami recebeu  pela manhã,um novo telefonema de Tetsuo, convidando-a para mais um fim de semana em Okinawa.
Nami concordou, e logo ligou para a compania aérea para reservar a passagem para o dia seguinte.Num papel ela anotou os dados da passagem:All Nippon Airways,vôo 8713 para Okinawa.
Mas achou que o papel estava pouco legível, e anotou em outro, que guardou na bolsa.
Quando Nami disse que teria de viajar outra vez, foi a maior choradeira:Maki não queria que ela viajasse, dizendo que a irmã podia passar ao menos um fim de semana com ela.
Só sossegou quando Nami disse:
-Minha adoradinha,eu te prometo que no próximo fim de semana depois deste nós iremos passar o fim de semana juntas e te levo para o Zoológico,combinado,onee-chan?
Como Nami sempre cumpria suas promessas religiosamente, Nami acabou concordando, e parou de chorar.
Mas ainda naquele dia,Maki contou-lhe que suas colegas a tinham visitado.
Nami tentou esconder seus sentimentos, mas ficou furiosa!
Ela foi ao colégio, dirigiu-se à
sala do Diretor, e mandou chamar as garotas que tinham ido visitar Maki.Pediu uma entrevista reservada com elas, e o Diretor saiu da sala.
-Como se atrevem a invadir minha casa e ficarem importunando a minhã irmã?
Disse Nami, com expressão severa e tom de voz agressivo.
-Mas Nami-sempai, nós só fizemos uma visitinha social, levamos bolos, doces e chás para ela, afinal ela perdeu uma amiga muito querida!
Kotone tomou para si a responsabilidade de responder por todas.
-Vocês estão achando que nós somos pobres e precisamos da piedade e da comida de vocês?
O olhar de Nami era assustador e feroz ao falar.
-Não, não, nada disto,Nami-sempai,por favor, só quisemos ajudar!
-Boas intenções os demônios também tem!Nunca mais, nunca mais se aproximem de Maki, entenderam?E nunca mais venham para a nossa casa !
Nami estava quase gritando ao falar, e as meninas se encolheram todas.Saíram todas correndo, assustadas e chorando, sem entender nada.
Ao ver delas, elas nada tinham feito de mais, nem de errado.
Ao chegar em casa no fim do dia Nami encontrou Maki  assistindo uma novela na televisão e comendo pipocas de microondas,algo que ela adorava.
-Onee-chan, tanta pipoca vai te fazer engordar, e depois, daqui há pouco vou pedir um jantar,que tal comida chinesa?Hoje não estou a fim de cozinhar.
-Ebaaaaa! Bolinho de porco agridoce!Bolinho de porco agridoce !E bastante arroz com chop-suey!
Disse Maki,que também adorava comida chinesa.
Elas jantaram assim que a comida chegou.Algo curioso é que Nami, quando em casa, nunca deixava Maki atender a campainha ou o telefone.E sempre que Maki estava ao telefone com alguém, Nami escutava pela extensão.
De fato Nami gostava de controlar a vida de Maki completamente, mas esta não se dava conta.
Depois do jantar, Maki foi para o video-game, e lá ficou até tarde da noite.
Era uma da madrugada quando foi direto para a cama da irmã, dormir abraçadinha com Nami.
Quando foi seis da manhã, Nami acordou, fêz e tomou o café da manhã, se arrumou, fez sua mala , deu um beijo na testa de Maki, que continuava dormindo.
Maki só acordou com o barulho do motor do táxi de Nami dando a partida, e de camisola mesmo saiu correndo para se despedir da irmã que ia  viajar.Nem notou que Nami esquecera a televisão ligada no canal de notícias vinte e quatro horas JNN.
Quando Maki chegou na porta da entrada, o táxi já ia longe, e ela mal conseguiu vê-lo.Era a primeira vez que não conseguira se despedir de Nami.
Voltou para casa frustrada e deprimida, toda chorosa,e deitou-se no sofá, e assim ficou por mais de uma hora,quando a fome fez seu estõmago roncar alto.Quando se levantou, viu e escutou a notícia na TV:
"-Um Boeing 737-700 da All Nippon Airways, saído de Kyoto com destino a Naha, Okinawa, acaba de cair,logo depois de sobrevoar a cidade de Nara.O avião parece ter se desintegrado em pleno ar, e não há registro de sobreviventes.Todos os noventa e seis passageros infelizmente faleceram, uma grande tragédia!.Para os familiares dos mortos, informamos que se trata do vôo 8713,repetindo, 8713!"
Maki estava paralisada de terror.Não conseguia acreditar, e achou que aquilo só podia ser um pesadêlo.Tentou ligar no celular de Nami e nada de resposta.
Procurou desesperadamente o papel em que Nami tinha anotado os  dados do vôo dela, e a realidade era cruel:não havia dúvidas-o vôo era o 8713 da All Nippon Airways, Kyoto-Naha!


(Por continuar)

Série Especial:Consciência de Viver-Capítulo 4

Capítulo 4



Mas ele ainda não estava a fim de dormir. Voltou para a cozinha e comeu mais um biscoito esverdeado, tomou um gole de água e começou a imaginar as conversas dos soldados de defesa de sua "cidade". Estava muito entusiasmado, curioso para saber que novas aventuras promoveria com seus personagens. Foi quando viu num canto um velho baralho amarfanhado e tristonho. E inventou novos personagens, desta feita a "Corte do Rei".
 Ele adorava experimentar. Criar novos personagens, projetar suas estruturas, dar-lhes um comportamento, construí-los detalhadamente, até formá-los e lhes dar vida. Planejar lhe dava prazer, moldar estórias fantásticas para eles também.
 Não precisava de companhia. Já tinha a si mesmo como companheiro de solidão. Isso lhe bastava, afinal ele já havia perdido a conta de quantos personagens  criara, e perdia-se no tempo a lembrança de seu último balanço.
Agora, com as cartas do baralho, imaginava que um reino era disputado por quatro reis em seus castelos com suas rainhas, sendo príncipes os valetes. As demais cartas, com exceção do Ás e do Coringa, seriam soldados. Ele misturava as cartas de cada naipe em separado e ao acaso, e confrontava duas cartas escolhidas a esmo: a que tivesse o maior número, vencia; a de menor número era eliminada.
 Dois naipes, ou seja, dois reinos se confrontavam, e o vencedor era desafiado pelo terceiro naipe, até que o último naipe que vencesse fosse proclamado por Ele como detentor do reino disputado. E as horas se passavam. Quando finalmente o Rei de Espadas se viu vencedor da contenda, Ele já estava com tamanho sono que quis finalmente se deitar.
De volta a seu quarto, Ele dormiu. Mas no meio da madrugada acordou sobressaltado.
Estava ocorrendo uma tremenda tempestade. Os trovões trombeteavam, a ventania chicoteava as janelas apodrecidas, os raios e relâmpagos riscavam a escuridão do quarto com um rastilho de luz que teimava em aparecer pelas frestas inúmeras daquela casa, assustadoramente iluminando com seus clarões aquele ambiente atemporal e agonizante.
Ele detestava as tempestades. Não só porque as temia muito, mas também porque quebravam o isolamento do mundo, trazendo-lhe de volta a angústia de confrontar-se com si mesmo e com a vergonha da covardia em não querer sair daquela casa e enfrentar o mundo, com o acomodamento injurioso e maléfico em refugiar-se em seu mundo confortável, o qual dominava e ao qual era cruelmente subjugado com a mesma ferocidade com que julgava dominar aquela residência e seu próprio mundo interior. Quando das tempestades, o mundo e a realidade batiam à sua porta como o mais apavorante dos monstros. Seus medos afloravam, a sua insegurança e toda a sua covardia, além de sua gigantesca preguiça, deixavam cair suas máscaras. Onde conseguir abrigo, se alguém não consegue sequer refugiar-se em si mesmo?
Habitante permanente da penumbra e das sombras, como uma barata que procura se esconder na segurança dos cantos escuros, assim era Ele.
Não estava acostumado a ver sua casa, pois na maior parte do tempo as trevas imperavam pela perenidade.
A visão da casa toda iluminada pelos fenômenos naturais lhe era arrepiante. Caía-lhe pesadamente sobre a cabeça a idéia de o quanto aquela casa era apavorante.
Agora é que não conseguiria mais dormir mesmo. Ficaria insone, estirado naquela cama lúgubre pelo resto da noite. Estava irado com a chuva e desfiava todo um rosário cansativo de impropérios. Mas, de pronto, a tempestade recrudescia a sua fúria e ele se calava com os olhos saltados, todo encolhido em posição fetal.
 Sim, era realmente duro para Ele sentir raiva e não poder expressá-la, diante de uma fúria que bem poderia ser perfeitamente maior do que a sua e que temia enfrentar. Isso lhe calava fundo e o frustrava imensamente. Quanto ele sofria em ter de engolir toda a impotência! Essa sua incapacidade lhe soava como incompetência de tal maneira perversa, surrando tanto a sua mente, aumentando suas dúvidas tão profundamente, que chegava a queimar em suas chagas! Parecia sentir os raios como a lhe penetrar as carnes e a desgastar seu âmago, fora disso impenetrável. Ele padecia a cada ribombar dos trovões, como um terrível golpe a derrubá-lo e, assim, realmente decaía a olhos vistos.
Ele estava transtornado e ansiava desesperadamente para a chuva parar e ter algum alívio em sua mente torturada. Tentava fugir para o Reino das Cartas, mas era inútil. Não conseguia se concentrar em mais nada. E chorou desabaladamente a falta de alguma entidade protetora que o protegesse da tempestade e o confortasse. Só conseguia contemplar o vazio, a ausência, o que só aumentava a sua dor.
 Pior ainda era quando a tempestade durava semanas a fio: era quando todo o seu desespero aumentava acima de qualquer limite.
Mas não foi o caso. Ao amanhecer a chuva parou, e ele acompanhou com os ouvidos até o último pingo cair.
Quase indescritível foi a sensação de alívio que Ele sentiu. E caiu no sono tão profundamente como poucas vezes tinha acontecido em sua vida. Não sabia quantas horas tinha dormido quando acordou.
Parecia ter ficado dias dormindo, e suas costas doíam.
Perambulou pela casa toda desalentadamente. A sensação dominante era do mais puro desânimo. Preguiça, tonteira... não sabia direito o que sentia. Mas sabia que não era nada agradável. As pernas não se firmavam, andavam bamboleantes.
Dirigiu-se instintivamente à cozinha. Era a fome que o chamava.
Desta vez, porém, queria alguma coisa diferente daqueles biscoitos amarfanhados e esverdeados que sempre comia. E descobriu velhas nozes em um pote que já havia sido transparente um dia, mas que jazia amarelado, quase marrom, no alto do velho armário, encerrado em um canto escuro que Ele jamais vasculhara antes. O pesado vidro foi aberto. Só que as nozes estavam de tal modo negras, apodrecidas e mofadas que exalavam um horrendo mau cheiro. Mas Ele as comeu com vontade. Apanhou um copo de vidro escurecido e bebeu sofregamente aquela água putrefata marrom-esverdeada.
 Após fartar-se de mais de uma dúzia de nozes e vários copos d'água, decidiu ir a um recanto poucas vezes visitado da casa: a grande sala de estar. Um imenso espaço quase vazio, como era toda aquela residência. Uma velha e comprida estante de madeira, coberta de teias de aranha, abrigava centenas e centenas de livros antiquíssimos, roídos de traças, mofados, repletos de repugnantes fungos multicoloridos, e entre eles o espaço vazio da obra que ficava na cabeceira da cama dele e que só era lida muito de vez em quando. Como este, todos os outros livros não tinham título nem nome do autor, sequer da editora. Muito menos data.
Em um canto, ficava um antigo sofá bastante surrado.
Espessas e pesadas cortinas escuras tampavam as janelas fechadas, e a porta exterior estava trancada e selada tal como tampa de caixão. Uma trava de madeira maciça a ornava, impossibilitando qualquer abertura externa. Ele se sentou no sofá e abriu um dos livros da estante. Começou a folheá-lo longamente.

(Por continuar)