Foto ilustrativa

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domingo, 10 de abril de 2011

Minissérie: Antes daquela fria manhã de Outono-Episódio 15




Episódio 15

Com Ume , Maki conseguiu abrir seu coração e teve momentos divertidos, onde pôde finalmente voltar a sorrir.Foram poucos , mas belos e preciosos momentos de alegria e amizade,carinho e atenção, que nunca mais se repetiram naquele orfanato infernal.Maki,entretanto, tinha desenvolvido um justificado pavor da Gerente e de Mei e suas asseclas.
Nem sempre Ume podia estar lá para defendê-la, e nestes momentos Maki apanhava sem qualquer misericórdia, e gritava e berrava de dor, assim como de pavor, e chamava por Nami para salvá-la.
Mas  se Nami nunca estava lá para salvá-la, Ume, sempre que podia, estava.E quando percebia que Maki apanhara, batia em suas algozes.
Mas Mei tinha jurado vingança e um dia esta vingança veio de forma trágica:
Maki e Ume estavam na cozinha do Orfanato, preparando o jantar,e conversavam animadamente,bastante distraídas.
Mei entrou na cozinha,aproveitando-se da distração delas e de que elas estavam de costas para ela, pegou uma enorme faca de cortar carne que estava na mesa,aproximou-se das largas costas de Ume,e em silêncio total, mas com toda a sua força, acertou uma facada nas costas da inimiga!
Mas não fora num lugar qualquer das costas:a faca afundou-se no fígado de Ume, que urrou de dor, e antes que pudesse reagir, mais quatro facadas acertaram-lhe pulmões ,intestinos, pâncreas.
Mei fora tão meticulosa em seu plano que estudara um livro de anatomia para acertar os pontos mais críticos e mortais.
Contorcendo-se de dor, Ume caiu ensanguentada no chão, e Mei montou em cima do tronco dela, e começou a esfaquear o peito e o pescoço dela, e quando a lâmina cortou a jugular, um esguicho de sangue em alta pressão jorrou e quase imediatamente a pressão sanguínea caiu a níveis críticos e ela perdeu os sentidos.
O golpe final foi no olho esquerdo, onde a faca varou o olho e se enterrou no cérebro.O outro olho ficou estático, arregalado, e a boca aberta, em agonia, numa careta medonha, e a respiração parou, assim como o coração.Ume estava morta!
Maki não parava de gritar e chorar, traumatizada,e o sangue de Ume tinha espirrado em seu rosto, peito e mãos.
Mei gargalhava histérica, uma gargalhada sinistra de assassina impiedosa a sangue frio, e continuava esfaqueando sem parar o corpo morto, num frenesi.e estava coberta dos pés à cabeça, a ponto de seus cabelos ficarem pegajosos e esponjosos , pingando sangue!
Maki começou a urinar e defecar nas próprias roupas e tremia de nervosa, num choro convulso,e repentinamente, despertou nela um rompante de revolta, que explodiu.Pela primeira vez na vida ela,arriscando sua própria vida, atirou-se contra a assassina e a surrou impiedosamente, numa fúria totalmente histérica, que pegou Mei totalmente de surprêsa,conseguindo inclusive, com uma força que nem mesmo Maki sabia de onde tirara,arrancar da mão de Mei a faca do crime,jogando-a longe.Com suas unhas, marcou as faces da inimiga profundamente, tirando sangue, uma marca permanente,cujas cicatrizes Mei carregaria pelo resto de sua vida.
Ouvindo a gritaria histérica de Maki, outras internas vieram correndo e arrancaram ela de cima de Mei, agora cheia de hematomas e com os dois olhos roxos.Na verdade , um dos socos de Maki fora tão forte, que um dos olhos de Mei  descolou a retina completamente, deixando-a cega de um olho para sempre.Depois disto, ela teve de usar um tapa-olhos.
Desta vez não houve como abafar o caso.Mei foi presa, e a temida Sra.Miyasaki foi processada criminalmente como responsável.
Mei nunca mais voltou ao orfanato:morreu num confronto com outras bandidas na penitenciária.
Agora, no entanto, Maki ganhara o respeito das internas:ninguém mais se atrevia a  tentar bater nela, humilhá-la ou fazer chacota dela.Ela passou a ser temida, e por ordem da Sra.Miyasaki, o Esquadrão Disciplinar foi desfeito.
Mas esta mesma gerente que desfez o temido Esquadrão Disciplinar, ficou furiosa com Maki e a culpou por todos os seus problemas.Iniciava-se a tortura psicológica da menina, e muitas vezes a Gerente colocava Maki por dias, semanas na solitária, e a deixava, três, quatro dias sem comida nem água.Era a maneira de a Sra. Miyasaka se vingar de Maki pela morte de Mei.Outras vezes ela amarrava Maki numa cadeira e fazia lavagem cerebral nela, para que ela acreditasse que era uma menina má e criminosa,e que tudo o que havia de ruim fosse culpa dela, que ela fosse uma inútil que só desse trabalho e não contribuía para a sociedade.
Mas era exasperante tanto para a carrasca como para a vítima, pois na mente de Maki só havia dor, desespêro, luto, e ela ia se infantilizando cada vez mais,perdida nas lembranças carinhosas e perdidas de Nami.
A Sra. Miyasaka, quando soube que Tetsuo requeria a guarda de Maki, fez de tudo para obstruir a justiça e nunca o deixou visitar o Orfanato e ver a menina.
A única agora que dava um pouco de apoio e carinho agora era a Assistente, que continuava, mesmo arriscando o próprio pescoço,intercedendo em favor de Maki, e fazia o máximo possível para preservar a saúde mental da garota.

(Por continuar) 

Série Especial: Autômato-Capítulo 4

 

Capítulo Quatro

 

 

 

Caiu exausto, enfim. Acabou dormindo.
E sonhou. Tudo estava nebuloso agora. E a Lagarta o atacou. Estava devorando sua cabeça, e as faces dela eram medonhas. Ele se debatia , e lutava com ela furiosamente. Tinha suas pernas, pôs - se em pé e continuou lutando. Ela ouviu os passos do Criador e tentou fugir. Auto, já sem sua cabeça, andava tontamente em círculos, enquanto o Criador pisou na Lagarta, esmagando - a. Pisou em Auto , que era  duro a ponto de  perfurar o pé de seu opressor, o que de fato ocorreu, e surgiu no peito do pé como se fosse um grande dedo que nasceu no lugar errado. O rosto do Criador exprimia grande dor e incomodo, e não conseguia se livrar daquele dedo enorme que se mexia, e que colocou sua cabeça de volta, com o olhar singular da repreensão. Abalado e desequilibrado pela dor, o Criador desabou. Não se mexia ,estava rígido. E que o Criador era assim mesmo, se se dobrasse, caia. Ambos na verdade eram rígidos, mas isto era paradoxal : o Criador, com sua pele reluzente de couro negro e macio, não tinha a menor flexibilidade alem da necessária para os movimentos corporais absolutamente indispensáveis , rígido como ‘arvore.  Já Auto, que era feito de material parecido com o plástico duro era rígido ,claro, mas quando lhe interessava, tornava - se bastante flexível ,‘a ponto de poder torcer o próprio tronco. Um portanto tinha a pele macia , mas não podia se dobrar, o outro tinha a pele dura, mas podia ate se torcer. Auto desvencilhou - se do pé inimigo, e continuou caminhando ate a escuridão invadir o ambiente outra vez.
Finalmente acordou. Sentia - se inseguro por estar longe de sua gaveta - mas, por acaso sentiu-se ele seguro alguma vez em sua existência no seu lugar de origem ou mesmo fora dele?
Fato era , isto sim, que ele se sentiria inseguro em qualquer lugar que ele fosse, e a causa, portanto, não era de modo algum, nem o lugar onde tinha surgido e vivido, nem o lugar, qual seja, que ele estivesse. Precisaria ele olhar dentro de si próprio para achar a fonte de sua insegurança. Só que isto, ah , isto e que o apavorava !
Muito mais simples era fugir, sem saber para onde, e onde fosse, continuava dentro de si, o acompanhava fielmente para seu desespero. Como um cão que tivesse medo da própria cauda, e tentasse fugir dela todas as vezes que ele olhasse para ela, fugindo em círculos, assim era Auto, tipicamente ele próprio , original e singular.

Auto voltou a se arrastar vagarosamente. Lançou seu olhar único para uma das paredes, e estacou repentinamente, aterrado :
Não bastasse ver apenas metade do mundo que o cercava, ainda via só metade de si mesmo, nada mais. Nada mais apavorante ver-se partido ao meio, meio corpo faltando!
Interessante notar que só um braço se levantou, e apenas metade do corpo se alongou. O resto ficou imóvel, paralisado. Seu olho que restava girou apenas 180 graus, assim como sua cabeça o fazia, e voltava, fazia e voltava, e cada meia volta era um susto!
Seu olho finalmente parou. Só que parou com a pupila voltada para baixo e para dentro. Portanto, para a sua agonia, metade do olho via o interior de seu corpo e mente, e a outra metade via seu reflexo espelhado dividido na parede!
Pior, seu olho travou. Ele ficou aterrorizado , e reagiu batendo a cabeça na parede, interminavelmente, cada vez mais rápido, mais e mais!
A parede para a qual tinha olhado, lustrosa e reflexiva qual espelho, mostrava-se insensível ‘as suas cabeçadas, permanecendo intacta. Do mesmo modo que a cabeça nua de Auto, que de tanto avançar no mármore, acabou finalmente por soltar o olho, livre afinal.

Descansava agora, e não sabia para onde olhar. Tudo ali o refletia, com exceção dele mesmo. Como lhe era doloroso ter descoberto que aquele mundo o refletia onde quer que ele fosse ! Confuso, assustado, sentia-se cercado por todos os lados, liberdade tolhida. Mesmo que desconhecesse este termo, embora sentisse o seu significado na  “ pele “ ; só não sabia que aquilo era liberdade.
Ou não?
Quando estava restrito em sua gaveta, não só não ia a lugar algum, como não sentia a menor falta qualquer mobilidade que pudesse ter. Ou melhor, sentia sim, quando o Criador vinha busca - lo, porem ocorre que ele tinha pernas antes, e nesta época ele procurava fugir desta ameaça silenciosa. Quando as perdeu, as valorizou. Mas liberdade não e apenas poder ir e vir, de acordo com a vontade própria, mas poder efetuar qualquer ação ao seu bel prazer, sem restrições de qualquer natureza e de quem fosse. Isto ele pode sentir em certa fase de sua existência.
Finalmente acabou por submergir em sua profunda abstração de sempre, aonde conseguia sentir um certo alivio, e prosseguir sua peregrinação sem destino e distraída que sabe-se la onde o conduziria. Sua distração alias era bem típica dele mesmo : imerso em pensamentos dispersos, desconexos entre si, não faziam qualquer sentido nem a ele mesmo nem a ninguém. Por certo não eram exatamente pensamentos no sentido “ normal “ pelo qual se entende ser um . Ele não mentalizava nem entendia nada.
Mas o forte dele era “ sentir “. Ele sentia, seja física ou mentalmente  ( psicologicamente ) , qualquer coisa, qualquer ato, expressão , ou sentimento demonstrado. Porem ele só recebia, não transmitia nada. Ele não sabia, ou não queria ? Faltava coragem para exteriorizar o que sentia?
Apenas especulações, margem para dúvidas...
Mas explorar e descobrir, isto ainda que inconscientemente, ele gostava. Sensações, diga-se, isto lhe importava e era vital. Ainda que tivesse medo de fazer estas coisas, pois quem explora e descobre, alarga fronteiras, enfrenta o desconhecido. Justamente o que lhe apavorava. Mas e o fascínio?
Não seria por isto que se arrastava tanto, tão longe de sua gaveta?
Passara toda a sua existência absorto explorando ‘a si mesmo ; agora tinha a chance preciosa de explorar um mundo exterior, tão misterioso quanto seu próprio interior, e abstraindo-se, negava a si mesmo esta chance.

(Por continuar)