Foto ilustrativa

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terça-feira, 29 de março de 2011

Série Especial: Consciência de Viver-Capítulo 5




Capítulo 5




Viu, então, uma ilustração. Seus cabelos se arrepiaram, e Ele teve uma crise de pânico. Começou a soluçar e chorar escandalosamente.
O que ele viu?
Simplesmente um homem que tentava domar um cavalo empinado.
O homem estava em pé no chão, e o cavalo, de boca aberta, empinado em uma posição pouco natural, quase em posição vertical. Um detalhe: na verdade, eram os esqueletos de um ser humano e de um eqüino. E o cavalo, de pé, ficava tão maior que o homem que parecia ser muito mais poderoso do que ele.
Era só isso! Mas, para Ele, a visão era outra. As órbitas do eqüino brilhavam vermelhas e maleficamente, tal qual um demônio, mas não era a verdade, pois só Ele via essas minúcias que verdadeiramente não existiam. Sua imaginação poderosa o atacava mais uma vez. Ele fechou o livro horrorizado e iniciou sua fuga corredor afora. Mas, em seu delírio, fruto de pura paranóia, começou a ver o cavalo sair do livro como um espírito maligno, gasosamente, e se materializar novamente em tamanho natural, relinchando, bufando e perseguindo-o com fúria, correndo apenas nas patas traseiras; suas órbitas brilhando, seu sorriso apavorante e seus ossos cruamente expostos, brancos como leite.
 Não! Não havia como escapar dele. O terror que o impulsionava a correr como jamais o fizera em sua vida parecia atrair magneticamente o cavalo atrás de si, mais e mais perto. Quanto mais corria, mais o cavalo se aproximava sadicamente. O tal eqüino parecia ser de uma crueldade tamanha, que Ele mal podia acreditar. O desespero era absoluto, e o peito doía, em acelerada taquicardia. Quase não conseguia respirar!
Acabou desmaiando, caído no chão. Algum tempo depois, ao acordar, procurou pelo esqueleto e nada achou. Voltou à sala e resolveu guardar o livro de volta, pois insistia que, enquanto o livro não estivesse guardado novamente, Ele corria o perigo de o cavalo voltar outra vez.
Temeroso e com milhares de cuidados entrou na sala. Quase voou para cima do livro, guardou-o com tremenda pressa, e saiu da sala mais apressado ainda. Refugiou-se na cozinha, devorando algumas nozes.
Novamente satisfeito, começou a pensar no que fazer.
Mas não conseguia absolutamente concentrar-se em pensamento algum. Nada! Parecia que sua imaginação, sua consciência, sua criatividade e até sua inteligência o tinham abandonado. Veio-lhe uma profunda angústia.. Todos tinham ido embora. Ele estava sozinho.
Alguma coisa lhe veio então à mente: o cavalo foi o único que não o abandonara. Mas era seu demônio! Ele começava a suar frio só de pensar em estar sozinho naquela casa imensa, sozinho com aquele maldito cavalo! Foi então que se lembrou de que havia um poema na página ao lado da foto do eqüino tão temido:

"Ai dos Mortos
Que não sabem
Sua condição,
À larga vivem
Em comiseração.

São miseráveis putrefatos
Sem qualquer argüição,
Vagam Sós
Pelo temor
De tanta imaginação!

De que se alimentam
Sem satisfação
Sofregamente o veneno
Eles compartilharão.

São inertes e perenes
Como o próprio inferno arderão
Que criaram sussurrantemente
A si mesmo um vilão
Ouviram o trovejar dos cascos
Em ebulição,
E a fera ungulada
Em que cavalgarão.

Indomáveis criaturas
Que os carregarão
Ao desértico sepulcro
Agonizando sem perdão.

Sob o domínio do relincho
Cavernoso
De tanta imaginação
A tortura angustiante
Em que ferverão.

Ilimitada e infinita
Em que perecerão
Galope maldito do Esqueleto
Senhor superior de todo medo
O cavalo terrífico de órbitas de fogo
Para o qual se danarão.

Escravos do horror
Para sempre serão
Eis que o tempo, indomável
como a fera,
lhes será tumba e prisão!"

(Por continuar) 

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