Foto ilustrativa

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terça-feira, 26 de abril de 2011

Sessão Aventura: Homem Mau,Lobo Bom-Capítulo 1

 

Homem Mau, Lobo Bom



Capítulo 1: Na alvorada de uma nova amizade


 Amanhecia novo dia no bosque selvagem das terras do Norte.
Estamos na Primavera, o gelo acabou de derreter ,o frio já foi esquecido.
Uma madrugada serena e morna, que se inicia com a saída das estrelas e do céu negro de Lua nova, pelas manchas coloridas do amanhecer ,ao ritmo tranqüilo e compassado dos grilos ; o firmamento se ilumina, de início fracamente, com tons de vermelho, laranja, roxo, amarelo, ouro; das tonalidades mais claras às mais fortes . O majestoso azul anil começa à aparecer, de mansinho, até ficar forte, junto com o Sol, glorioso em sua majestade e todo o horizonte ilumina-se, o dia finalmente chegou!
. Mas no bosque a vida ferve; e alguns animais não podem se dar ao luxo de admirar o magnífico espetáculo que a toda sabia Natureza oferece :
A respiração é pesada e profunda, profundamente ritmada por um coração poderoso, batendo quase com violência. Os olhos, injetados de ódio rancoroso, as quatro patas, firmes como rochas, respondendo ao nervosismo com energia: começa um galope veloz, o alvo está à sua frente, não pode errar; as presas afiadas saindo dos cantos da boca brilham.
 O javali vinha correndo em direção ao grande lobo, preso pela perna traseira direita por uma armadilha de caçadores. Via a morte certa chegar, debatendo-se sem sucesso, tentando inútilmente escapar.
Mas havia uma testemunha para esta cena: uma bela e ruiva raposa-vermelha, que saltou da moita onde estava, com muita agilidade e com a habilidade da experiência que tinha, abriu e soltou as garras da armadilha, pisando no botão da trava.
A reação foi rápida e fulminante: o lobo desviou-se do javali, que espumava de fúria , não tardando em atacá-lo, suas presas navalhinas rasgando a carne gordurosa do porco selvagem, o sangue escorrendo generosamente , doce e oleoso, sendo bebido com delicia, até que as mandíbulas se fecharam de pronto, e os ossos do pescoço suíno estalaram, esmagadas e despedaçadas pelos dentes fortes e afiadíssimos do Lobo. O javali tombou morto.
 -Hey, venha cá , raposa vermelha!  Almoce comigo desta farta refeição ! Não é comum alguém salvar-me a vida, mas já que o fez , tenho de agradecer-lhe. Qual seu nome? Eu me chamo Akilah, chefe da Alcatéia dos lobos do Norte.
-Eu sou Fewh. Apenas uma raposa vermelha do bosque. Não serei eu, por acaso, sua segunda refeição?
-Ah,ahahahah! Claro que não , nunca ouviu falar da dignidade e honra dos Lobos, tão famosa? Você é meu amigo e aliado agora; e doravante jamais terá de temer a lobo algum. Eu comando todos desta floresta e todos me obedecem fiel e lealmente.
-Sim, por decerto. É que sou desconfiado. Prezo por minha vida; e minha companheira , saudosa, foi morta e devorada por um de vocês . A fome fala mais alto. Dê -me um cantinho.
-Sirva-se, Fewh. Queira desculpar-me por este infeliz incidente em sua vida. Não precisa temer à ninguém agora.
-À não ser o homem e seus cães.
-Bom, tem razão . Eles são cruéis . Temos de tomar cuidado. Sós são inofensivos, mas armados e em grande número...soube que por causa deles não existem mais lobos no sul, eles mataram todos! Mataram lobas prenhes e deixaram ninhadas inteiras morrerem de fome, após matarem os pais! Eles nos matam por medo e covardia; por irresponsabilidade também. Destroem as florestas e matam nossa caça de fome para erguerem suas fazendas; e nós , morrendo de fome, sem ter o que caçar, depois não querem que caçemos galinhas e ovelhas. Se tivéssemos boa caça para nos alimentar, não  precisaríamos chegar à este ponto.
-Fossem só os lobos...às raposas eles fazem caçadas terríveis e matam à toa : pura e cruel diversão !
-Você sabe , sabe o que é ouvir os uivos, os lamentos dos filhotes ainda sequer desmamados, chamando inútilmente pela mãe , temerosos da própria morte ? O quanto isto é agônico ? E pior, sem poder ajudá-los ? Sim, já vi isto em minha vida, espero jamais ver isto novamente...
-É uma crueldade. Também já tive esta experiência, sei muito bem o que sentiu...
-Sim...mas, está devidamente satisfeito, Fewh?
-Empanturrei-me de fato.
 -Ora, eu também. Sobrou pouco, mas os abutres sem duvida vão gostar muito desta refeição . Não hesite em pedir-me ajuda, se precisar, devo-lhe a minha vida, é uma dívida de honra, à qual anseio restituir-lhe de modo grato. Conte comigo para o resto de sua vida, terá  sempre a minha pela sua!
-Muito obrigado. Devo ir agora. Mas, por curiosidade: nesta época , os lobos andam em casais, sempre juntos; e você está só ? E sua companheira?
-Morta pelo homens, ela o foi...quanta tristeza em meu coração ao lhe contar isto, morta covarde e cruelmente por eles, em meados da primavera passada...eu estava longe, procurando comida para ela, eles a cercaram na toca, mataram-na e deixaram os filhotes à míngua. Quando voltei, todos estavam mortos. Os cães dos homens mataram os filhotes, que pude ouvir ganirem e lamentarem até o silêncio. Com os homens ainda por perto, nada pude fazer. Ter-me-iam matado também. Mas está chegando a época do cio do povo lobo; e lutarei por uma nova fêmea. E criaremos nova ninhada!
-É revoltante, Akilah. Mas, só podemos recomeçar tudo de novo. As raposas também não tardarão a ter seu cio, então, também escolherei minha companheira; e a ajudarei a criar a ninhada. Até qualquer dia!
-Até qualquer dia, Fewh. Se precisar de mim, é só uivar !
Os dois se separaram, cada qual seguindo uma direção.

(Por continuar) 

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